Quem nunca sonhou ser uma estrela da música e cantar perante multidões em êxtase, sendo adorado por milhões, que atire a primeira pedra. Aliás, a história do jovem artista que sobe na vida a pulso e vinga na música até se tornar num artista completo, tem sido uma variação da tradicional história do underdog que tem feito as delícias de Hollywood desde sempre. Basta ver quantas versões de Nasceu Uma Estrela já houve.

Mas mais do que um cantor ou líder de uma banda, quem é que nunca sonhou ser um produtor de sucesso, hein? Ser aquela pessoa que se senta no estúdio e carrega nos botões, enquanto a banda toca, mantendo-se praticamente no anonimato do sucesso dos artistas. Quem nunca teve este sonho que atire a primeira pedra. É para todos vós que surge agora The High Note.

Pois é, Dakota Johnson pode ser a assistente pessoal da grande diva da soul, Grace Davis (Tracee Ellis Ross), mas o seu sonho mesmo é ser produtora. Por isso, quando conhece um talentoso cantor e compositor r&b (David Cliff), Dakota Johnson vai propor produzir o seu álbum de estreia, podendo assim dar azo a um name dropping que não serve para nada senão contextualizar a cena da música onde The High Note se tenta inserir: Aretha Franklin, Sam Cooke, Carole King, etc.

The High Note é um feel good movie que tenta ter a profundidade de um drama de ascensão e queda antes da glória final, mas que obviamente não consegue. Isso porque a ideia de profundidade dramática da realizadora Nisha Ganatra é filmar o maior número possível de cenas ao pôr-do-sol ou ao nascer do sol, com muitos flares, como os anúncios da cerveja com muita gente bonita a correr na praia ao lusco-fusco.

The High Note tenta ainda incutir drama e tragédia na história de Dakota Johnson, mas olhamos para a sua vida e comparamos com a de Lady Gaga em Assim Nasce uma Estrela, por exemplo, e vemos como é uma privilegiada: ao trabalhar com a maior cantora viva à face da terra, Dakota Johnson tem acesso directo a produtores, estúdios, promotores de eventos, artistas de renome e tudo e mais alguma coisa. Por isso, quem é que consegue ter empatia pelos seus esforços em conjugar a gravação do disco do seu amigo com ter que levar o Lamborghini a lavar? É tudo um grande saco de problemas de primeiro mundo.

Depois da ascensão e queda, entra em cena Bill Pullman para o acto final de The High Note. E é quando este se torna numa sequela não-oficial de Mamma Mia(!), mas na Califórnia em vez de uma ilha grega. De repente, há arco-íris, unicórnios e muito algodão doce por todo o lado, casamentos e uniões de facto formam-se para toda a vida e aquele filme sobre o cumprir dos sonhos por quem batalha muito por eles torna-se ainda num Happy Meal mais xaroposo e cheio de azeite.

Título: The High Note
Realizador: Nisha Ganatra
Ano: 2020