| CRÍTICAS | 12 Hour Shift

O título de 12 Hour Shift é todo ele um caderno de encargos e, quando o associamos à cena de abertura, imaginamos logo que vamos para uma espécie de episódio alargado de um Serviço de Urgência ou qualquer outra série de médicos que agora entopem os canais de televisão: a enfermeira Mandy (Angela Bettis) fuma um último cigarro à porta do hospital antes de entrar ao serviço para um turno duplo. Claro que, a essa altura, não nos lembrámos do poster do filme, com a mesma Mandy toda salpicada de sangue, para pensarmos que, se calhar… estamos enganados.

Mandy está tão assoberbada pelo seu trabalho, como pela própria vida. Por isso, aquele turno de 12 horas vai-lhe parecer uma eternidade. Mandy snifa umas linhas de uns comprimidos que palma aos doentes para aguentar mais uma hora e para conseguir manter uma cara feliz, enquanto responde aos utentes com one-liners arrogantes. E, ao mesmo tempo, gere com a sua supervisora (Nikea Gamby-Turner), um esquema de tráfico de órgãos, que retira à socapa de doentes terminais que mata com lixívia.

Ou seja, apenas mais um dia nas urgências do hospital. Certo? Errado. Porque vai entrar em cena Regina (Chloe Farnworth), a prima saloia que podia fazer parte do elenco de O Meu Nome é Earl e que faz a ligação entre o esquema de tráfico de órgãos no hospital e o gangster que lidera a coisa (o ex-wrestler Mick Foley, numa curta, mas surpreendente aparição). Quando Regina, qual desenho-animado dos Looney Tunes, perde o fígado que devia transportar, tudo se vai complicar. E Mandy vai ter que improvisar.

12 Hour Shift é uma sátira com muito humor negro, que vai empilhar uma sucessão de homicídios, suicídios e acidentes bizarros, que têm como ponto comum o grotesco e a irrisão. Por entre criminosos odiadores de polícias (David Arquette), velhinhas que acabam de acordar de comas prolongados e gangsters cruéis, tudo serve para tecer uma teia de decisões pouco escrupulosas, que nem chegam a ser amorais por serem tão cartunescas.

12 Hour Shift podia ser um segmento do Guy Ritchie numa sequela do 4 Quartos, num exercício de copy-paste que brinca com os códigos de género do série b mais gore (um Sam Raimi ou um Peter Jackson do início aprovariam). No entanto, se isso funcionaria numa curta, numa longa é claramente exagerado. Talvez se o filme fosse um turno normal de 6 horas e não um turno duplo. Até porque nunca conseguimos criar verdadeiramente empatia com a anti-heroína, de quem nunca sabemos nada e que não tem assim tanto carisma para aguentar sozinha uma personagem dessas. Mas há cenas com graça e uma sequência-coral ao som de um espiritual gospel que valem facilmente o Cheeseburger.

Título: 12 Hour Shift
Realizador: Brea Grant
Ano: 2020

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *