Quando desistiu de vez de fazer de James Bond, Sean Connery teve dificuldades em arranjar novos papéis. Tanta dificuldades, que o desespero levou-o a aceitar qualquer coisa. E quando digo qualquer coisa, refiro-me mesmo a qualquer coisa. Basta ver este Zardoz, uma “coisa” de ficção-científica em que John Boorman perdeu o juízo e pôs Sean Connery a andar durante quase duas horas de tanga cor-de-laranja(!), bigode e rabo-de-cavalo.
Zardoz é então o Deus de uma civilização num futuro hipotético, ambientada numa Irlanda meia medieval meio pós-apocalíptica. Mas Zardoz também é uma cabeça de pedra gigante que voa, o que começa logo por tirar a credibilidade que ainda restava depois de vermos Sean Connery em trajes fetichistas homossexuais. E a coisa bate no fundo quando Zardoz dá as ordens ao seu grupo de extreminadores: matar toda a gente que se reproduza porque os pénis são maus e as armas são boas. Juro que ele diz mesmo isto! Ah.. e fazer pão também. Porque é preciso um pretexto para Sean Connery infiltrar-se dentro da cabeça de pedra e passar para o outro lado.
O outro lado é o vortex, uma distopia de uma civilização perfeita e imortal, que vive dentro de uma redoma de vidro a comer fruta e a pentear muito bem os seus carácois dourados. A única diferença para a Grécia Antiga é que aqui não há sexo. Sean Connery vai então ser aprisionado e estudado, uma besta no meio dos intelectuais, seguindo o fascínio do Homem enquanto monstro no meio dos anormais, invertendo as posições que estamos habituados a ver no cinema e que teve o seu expoente máximo com O Homem Que Veio do Futuro. Só que em mal feito.
Desenvolve-se então vários dilemas existenciais e metafísicos, em formato acid trip. No entanto, esta é uma trip que correu mal. É que já vi muitos filmes esquisitos, mas nenhum como este. Algumas questões levantadas até são pertinentes, mas é tudo tão mal feito e surreal, que custamos a acreditar que estão envolvidas pesoas tão respeitáveis como John Boorman, Sean Connery ou Charlotte Rampling. Em Silmarillion, a Bíblia da Terra Média, Tolkien explica que o deus lá deles criou os homens e deu-lhes a benção da morte, o que os distinguia dos elfos. No entanto, o diabo deu-lhe uma conotação má e é por isso que hoje tememos a morte. Aqui, a temática é mais ou menos a mesma: os imortais querem morrer cansados de tanta eternidade e o Homem vai dar-lhes a solução, com as suas emoções, sentimentos e humanidade. Ou pelo menos é isso que eu percebi, no meio de tanta insanidade, LSD estragado, mamas à mostra e cenas cheesy.
Cheesy – eis a palavra-chave deste filme. Começando pela excelente frase os pénis são maus, as armas são boas, passando pela meditação em conjunto que os imortais faziam com as mãos esticadas e a gritar hmmm, passando pelo escudo invisível que nós só detectamos porque há uma voz mecânica que diz repetidamente está aqui um escudo invísivel, passando pelas imagens de mulheres a lutar na lama que fazem parte de um estudo superior sobre a excitação, enfim… podia estar aqui o dia todo. Aliado a tudo isto, Zardoz é confrangedor, com as suas representações amadoras e cenas maquinais, que fazem a direcção de actores de Manoel de Olveira merecer um Oscar.
Considerado por muitos como um dos piores filmes de sempre, Zardoz é ainda tido por outros tantos como um filme incompreendido, um daqueles filmes de culto que de tão mau se torna bom. Novidade: não é. É apenas tão mau, que se torna ainda pior. Para morrer de aborrecimento, de riso ou engasgado na Hamburga de Choco.
Título: Zardoz
Realizador: John Boorman
Ano: 1974