Chip (Tyler Cornack) vive com pouco entusiasmo a sua vidinha, por entre os afazeres familiares, uma esposa (Shelby Dash) que pouco lhe liga e um trabalho para o qual não há paciência para tanta gestão positiva por parte do chefe (Austin Lewis), até que tem uma epifania numa visita de rotina ao médico. Ao fazer o exame à próstata, Chip descobre que existe todo um novo mundo de prazer por descobrir, que vai alterar radicalmente a sua vida.
Chip começa então a enfiar tudo no rabo. A sua mulher não se mostra muito entusiasmada com isso na cama, por isso Chip toma a iniciativa. E vai experimentando e aumentando… Primeiro a peça de um jogo de tabuleiro do filho; depois o comando da televisão; depois o cão(!); e depois… um bebé(!!). Como assim, um bebé?, perguntam vocês. Não há bem explicação. Chip consegue pôr coisas no cu e elas desaparecem. Por isso, um comando de televisão desaparecido é apenas um infortúnio. Mas quando um bebé desaparece, entramos no campo do policial.
A premissa de Butt Boy não podia ser mais absurda que isto e nem a Troma se lembrou de tal coisa. Mas Butt Boy nunca perde a compostura e consegue transformar esta ideia numa longa-metragem, mantendo a cara séria até ao fim e nunca resvalado para a paródia escatológica. E se em Ex Drummer víamos pessoas a passear dentro de uma vagina, aqui vamos ver pessoas a viver dentro de um ânus(!).
Butt Boy funciona porque é um policial. Abraça o género e assume todos os seus códigos. É aí que entra em cena o inspector Russel B. Fox (Tyler Rice, perturbadoramente parecido a Emilio Estevez), com o seu cabelo cheio de gel e uma pêra esquisita, uma adição ao álcool que tenta combater nas reuniões semanais dos AA e muita intensidade. Russel é intenso, tão intenso quanto um polícia durão o poderia ser no final dos anos 80. E todas aquelas cenas de redenção pessoal, em que se entrega à bebida, despido e exposto, parecem ter saído directamente de um filme perdido de Abel Ferrara.
Butt Boy pode ser um filme sobre um tipo que mete coisas no cu, mas não é isso que vemos. O que assistimos é um policial neo-nor incrível, com uma filmografia que não revela em nada o baixo orçamento, dois actores a dar tudo e uma ambição desmedida em transformar em filme aquilo que começou por ser um sketch parvo na série televisiva Tiny Cinema. Já começaram a sair as listas dos melhores filmes do ano e John Waters escolheu Butt Boy para encimar a sua. Acho que isso diz tudo, não é? Muito mais do que o McRoyal Deluxe que leva daqui.
Título: Butt Boy
Realizador: Tyler Cornack
Ano: 2019