Michael Douglas é provavelmente a pessoa em Hollywood que melhor soube tirar partido dos thriller eróticos. Afinal de contas, Atracção Fatal e Instinto Fatal são os dois melhores filmes do género e Douglas está em ambos. Por isso, um filme como Revelação fica bem na sua filmografia (pelo menos em teoria, claro). É que, apesar de ser também um thriller erótico, acaba por inverter as posições de poder.
Michael Douglas é então um engenheiro informático de uma grande empresa liderada por Donald Sutherland, que enquanto desenvolve uma drive de CD e um programa qualquer de realidade virtual para armazenar ficheiros(!) (quem nunca quis aceder à cloud com uns óculos de VR que atire a primeira pedra), prepara também uma fusão milionária. Entretanto, é contratada para sua chefe uma antiga namorada, Demi Moore, que depois de ver gorada uma tentativa de irem para a cama, o acusa de assédio sexual.
O tema de Revelação é tão sensível quanto pertinente. Afinal de contas, os homens também podem ser vítima de assédio sexual. Há muita coisa para se falar aqui, mas, no final, o realizador Barry Levinson não tem unhas para tocar esta guitarra. Devíamos perceber logo pelo início, quando são colados rótulos muito bem definidos nas personagens, para sabermos quem é o quê: Michael Douglas é o bom e Demi Moore é a má.
Por isso, Revelação faz o mesmo papel que aqueles broncos fazem nas caixas de comentários das notícias de quando alguma mulher acusa uma celebridade de assédio: só se lembrou de o acusar agora?, Ela quer é fama ou Aposto que tem é falta dele são algumas das barbaridades que se ouvem. Revelação repete mais do que uma vez de que o assédio tem a ver com poder e não com género, como se quisesse não deixar dúvidas na sua mensagem – Michael Crichton, o argumentista, sempre foi um pateta de ideologia duvidosa. Tem razão, mas esquece-se que, dentro do patriarcado, as mulheres nem sequer têm o mesmo acesso a esses canais de poder. Por isso, colocar as coisas nestes termos é, antes de tudo, uma provocação barata.
Contudo, Revelação acaba por nem sequer ir até ao fim desse caminho. Depois de resolver o segundo acto, aquele em que é um filme de tribunal, com um daqueles truques deus ex machina (spoilers: Douglas descobre que fez uma chamada segundos antes do ataque, que se enganou no número(!), que não desligou e que ficou tudo gravado(!!) no atendedor), o último terço do filme é uma idiotice pegada de realidade virtual altamente datada, em que Michael Douglas tem de usar uns óculos de VR para encontrar uns ficheiros escondidos. E, surpresa!, afinal era tudo uma teoria da conspiração para o despedir. Se não fosse ficção, venceria sem dúvida o Nobel para pior estratégia de sempre para despedir alguém. Que baboseira de Happy Meal.
Título: Disclosure
Realizador: Barry Levinson
Ano: 1994