Com O Meu Amigo Mac há de surgir sempre a eterna questão: o que terá aparecido primeiro? Terá sido a ideia de se fazer um rip-off de E.T. – O Extraterrestre e aproveitar o patrocínio do McDonalds e da Coca-Cola? Ou terá sido a ideia da McDonalds e da Coca-Cola de patrocinarem um anúncio em forma de filme?
Apesar dos responsáveis garantirem que a primeira opção é a resposta correcta, é difícil não acreditar no oposto. Além de todo o product placement (quer dizer, os extraterrestres do filme alimentam-se com… Coca-Cola(!)), de haver uma personagem que tem sempre vestido o uniforme do McDonalds e do próprio título (se bem que Mac é o acrónimo de… Mysterious Alien Creature(!!)), basta olhar para aquela que é uma das duas cenas icónicas do filme. Os protagonistas vão a uma festa de anos de uma criança que não aparece em mais cena nenhuma num… exacto, num McDonalds e, de repente, todos desatam a dançar(!), dentro e fora do restaurante(!!), numa coreografia digna de um musical ensaiado no liceu, sem qualquer razão aparente. A cena é tão aleatória e plantada, que Ronald McDonald até ganhou um Razzie nesse ano, mantendo-se como a única personagem fictícia a ter tal galardão. E. T. – O Extraterrestre 2, Electric Boogaloo teria sido um dos vários títulos possíveis.
A outra cena marcante de O Meu Amigo Mac é uma que os mais atentos reconhecerão de todas a vezes que Paul Rudd vai ao Conan O’Brien. Nesta, o herói do filme, Eric (Jade Calegory), perde o controlo da sua cadeira de rodas numa ladeira perto de casa, que desce a grande velocidade, despenhando-se de um desfiladeiro para dentro de água. Há de vir a ser salvo pelo extraterrestre, que é apenas um boneco a afundar na água, e há de sair do lago em cima da cadeira de rodas. Impagável!
O Meu Amigo Mac é assim um rip-off desavergonhado de E. T. – O Extraterrestre, em que os poucos novos elementos que são acrescentados ao argumento são maus, estúpidos ou sem sentido. Aqui, em vez de haver apenas uma criatura, existe toda uma família deles, que chegam à Terra depois de serem aspirados (sim, aspirados literalmente!) por uma sonda da NASA. A família de alienígenas têm uma cabeça de borracha, com boca de broche e onde só mexem os olhos e as orelhas, e estão vestidos numa licra castanha, que parecem os dinossauros daquele filme porno clássico do jurássico. Hão de ficar perdidos no deserto, pelo que é o filho, que tem a mesma cabeça e corpo de plástico, que há de chegar à casa de Eric, que o irá ajudar a reencontrar a família.
Com a ajuda do irmão e das duas vizinhas da frente, Eric e a criatura terão que fugir ao FBI, que descobre que os miúdos estão a esconder o extraterrestre numa outra cena surreal: o detective está a fazer inquéritos porta a porta naquele bairro e, depois de perguntar à mãe se viu alguma coisa estranha, entra no carro e diz ao parceiro ele está aqui. E não é que estava mesmo? Há ainda uma série de cenas avulso pelo meio (como a criatura a andar de carro eléctrico perseguido por cães só porque sim) e um par de hinos dos anos 80, em montages sem qualquer sentido, que nem sequer correspondem às letras das canções.
No fim, tudo termina mais uma vez de forma surreal. Os extraterrestres são encurralados pela polícia à saída de um supermercado e o pai da criatura há de disparar involuntariamente uma arma, o que leva a polícia a abrir fogo. De súbito, todo o supermercado explode(!). E quando a poeira assenta, Eric está morto(!!). Tudo isto num suposto feelgood movie para toda a família. Mas eis senão quando… afinal os extraterrestres têm poderes e ressuscitam o miúdo(!!!). Ah, e são tornados cidadãos norte-americanos (estão a ver, são aliens…), numa cerimónia em que vestem roupas ocidentais e as meninas usam laços de cabelo, apesar de não terem cabelo. Porque a integração é muito bonita, mas apenas quando são assimilados. Mas a piada maior chega na última cena, antes de rolarem os créditos finais, quando os extraterrestres dizem we’ll be back. A sério, o pessoal achou mesmo que iria haver uma sequela disto. O que demonstra bem a falta de noção que havia por aqueles lados. Ao contrário do que muita gente defende, este Pão com Manteiga não é um bom mau filme; é só inusitado.
Título: Mac and Me
Realizador: Stewart Raffill
Ano: 1988