| CRÍTICAS | Next of Kin

O cinema australiano foi, durante duas décadas, o maior viveiro de filmes xunga que a série b já viu acontecer. Apesar de apenas Mad Max – As Motos da Morte ter tido sucesso global, a ozploitation – termo cunhado por Quentin Tarantino e muito bem explicadinho no documentário Not Quite Hollywood – criou uma série de xungaria da grossa, filmes alarves e muito gore gratuito.

De entre os títulos mais conhecidos destaca-se este Next of Kin, que surge já na fase tardia da ozploitation (não confundir com o filme homónimo também dos anos 80, com Patrick Swayze) e que é conhecido como o Shining australiano. No entanto, as semelhanças com o filme de Stanley Kubrick são muito poucas, excepto passar-se numa mansão enorme, haver uns sonhos recorrentes nos corredores alcatifados e ter um par de planos que podem ser uma referência mais ou menos voluntária.

No entanto, Next of Kin não deixa de ser mais uma variação do tema da casa assombrada. Linda (Jacki Kerin) é uma jovem que regressa à mansão utilizada como lar da terceira idade da mãe, depois da morte desta, para por as coisas em dia e, quiçá, vende-la. Mas rapidamente as coisas começam a ficar estranhas, com torneiras que aparecem abertas, portas abertas e algumas visões fugidias pelo canto do olho. Ah, e um velhote aparece afogado na banheira. Há fantasmas à solta ou é tudo paranóia na cabeça de Linda?

Nunca há propriamente uma historia com profundidade em Next of Kin, se bem que os livros de contabilidade e os diários que a mãe deixou dão umas pistas. Por isso, quando no final surge o grande desenlace da história (não se pode, no entanto, chamar de twist, seria abusivo…), as peças do puzzle custam a encaixar. A motivação do vilão nunca é propriamente clara ou razoável e os buracos de argumento são tão grandes que conseguimos passar por dentro deles.

Mas o que diferencia Next of Kin dos seus semelhantes (e pela positiva) é a sua atmosfera. O realizador Tony Williams consegue criar um filme com uma visão muito própria, personalidade e carisma, assente em câmaras lentas muito cool décadas antes da câmara lenta ser fixe, planos super-estilizados e uma banda-sonora que é possível encontrar em vinil do alemão Klaus Schulze, um dos reis do sintetizador. No final, tudo termina em modo uber-gratuito, com o realizador completamente descontrolado, mas fiquem até ao fim porque o último plano é um clássico do cinema australiano: uma explosão num diner que a câmara, enquanto roda lentamente, apanha primeiro reflectida num sinal de trânsito e só depois dentro de campo. Um plano incrível, que em Not Quite Hollywood descobrimos ter sido acidental, mas quem é que quer saber? Se vale um Double Cheeseburger, o que é que interessa se foi propositado ou não?

Título: Next of Kin
Realizador: Tony Williams
Ano: 1982

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