Os norte-americanos já fizeram filmes dentro de tudo. Começaram pelos mais simples e óbvios, como 11 homens fechados numa sala de júri a decidirem um veredicto e depois foram sendo cada vez mais criativos: dentro de um carro, ao telefone; dentro de um barco a afundar-se; ou dentro de uma cabine telefónica(!). Os espanhóis têm ainda um dos mais interessantes, Enterrado, que se passa todo ele dentro de um caixão, debaixo da terra. E os dinamarqueses têm este Ambulance, que se passa… dentro de uma ambulância.
O plano de abertura parece pilhado directamente a Um Dia de Cão: um plano fixo de uma rua, onde se vê um banco. Dois tipos com uma meia na cabeça (Thomas Bo Larsen e Paw Henriksen) entram no banco em primeiro plano. Lá atrás, uma ambulância chega para ocorrer a uma emergência. Soam tiros. A polícia chega e cerca o banco. Os assaltantes abrem fogo e escapam à força. A ambulância mais acima torna-se no improvisado veículo de fuga.
Temos então dois irmãos em fuga, que acabaram de assaltar um banco. Os seus motivos nunca são obscuros, já que o realizador Laurits Munch-Petersen expõe logo todo o jogo na mesa: a mãe deles está a morrer com cancro e a única esperança é uma operação caríssima num hospital privado. O assalto não correu propriamente como planeado e agora é preciso improvisar. Até porque uma ambulância não é propriamente o melhor carro de fuga. Além disso, há um plot twist: a ambulância traz brinde. Ou seja, na parte de trás, segue uma enfermeira (Helle Fagralid) e um tipo na maca que acabou de ter um ataque cardíaco.
Ambulance começa por ser uma perseguição automóvel, como é óbvio, mas não se fica por aí. Até porque, para isso, já existe Fugitivo Acidental. Rapidamente, Ambulance vai criar um novo conflito: devem os assaltantes continuar a fuga ou tentar salvar aquele homem, cuja vida se esvai aos poucos nas traseiras da ambulância? À claustrofobia do espaço e à pressão do roubo e da fuga junta-se então este novo motivo de discórdia, que vai transformar aquela ambulância numa panela de pressão.
A realização de Munch-Petersen não é de nenhum virtuosismo técnico, mas é suficientemente eficaz para manter-nos interessados e empolgados. Além disso, tem um trunfo na manga que é a humanização daqueles anti-heróis. Não só lhes dá uma motivação, como consegue, com uma economia narrativa muito eficaz, dar-lhes profundidade e mostrar que a linha que separa o bem e o mal é difusa.
O filme é curto, até porque não há muito mais a dizer depois da ambulância chegar ao seu destino. Contudo, Laurits Munch-Petersen estraga tudo, com um acto final telenovesco. Só faltava terminar o filme com casamentos, mãezinhas salvas a acenar e bandeiras desfraldadas ao vento. Porque a redenção daquelas personagens já estava feita, não era preciso sublinhar a grosso com uma porrada de clichés. E isso estraga o que até então tinha sido um belo McChicken.
Título: Ambunlancen
Realizador: Laurits Munch-Petersen
Ano: 2005