| CRÍTICAS | Top Gun – Ases Indomáveis

Mesmo quem nunca viu Sleep With Me provavelmente conhece (ou já ouviu falar) do diálogo de Quentin Tarantino sobre como Top Gun – Ases Indomáveis é um filme gay. No fundo, o que Tarantino fez nessa cena foi apenas colocar por palavras aquilo que todos sentimos quando vemos o clássico de Tony Scott: um filme de grande tensão homo-erótica, com muitos homens musculosos em várias cenas em cuecas a olharem-se, a tocarem-se e a esfregarem-se. As cenas de balneário quase que podiam fazer parte de A Caça.

Exageros à parte, Top Gun – Ases Indomáveis é um filme que está para os pilotos de avião assim como Mar de Chamas está para os bombeiros. Val Kilmer, no seu recente documentário biográfico, Val, afirma que, depois disto, nunca mais conseguiu andar de avião sem que o piloto o abordasse e lhe chamasse Iceman. Top Gun – Ases Indomáveis é assim a história de um bando de jovens pilotos da Marinha norte-americana durante o seu verão na escola de caças especiais, a Top Gun, onde se destaca o impetuoso Maverick (Tom Cruise) e o fiel co-piloto, Goose (Anthony Edwards), e o seu rival, o estiloso e meticuloso Iceman (Val Kilmer).

O grupo vai-se dividir entre estas duas facções, num argumento tão esquemático que conseguimos adivinhar à distância o que vem a seguir: primeiro surge o interesse romântico de Tom Cruise, a bela Charlie (Kelly McGillis), instrutora do curso; depois a morte de um dos personagens principais; e, finalmente, a revelação do que aconteceu ao pai de Cruise, um antigo piloto desaparecido em combate que deixou um trauma determinante (e enormes expectativas em aberto) no crescimento do filho.

No entanto, Tony Scott não estava aqui para inventar nada – apenas o blockbuster moderno – e, por isso, fa-lo com brio e critério, dando espaço aos seus actores para crescerem e terem personagens que não se limitam a bonecos caricaturais, ao mesmo tempo que começava a explorar aquela que viria a ser a sua imagem de marca: os filtros, as cores saturadas e muitas câmaras em movimentos rápidos e epilépticos. Pelo meio, enche os buracos vazios com muitas cenas de aviões, máquinas enormes e barulhentas, que são uma extensão da virilidade daqueles homens, a lutar para verem quem é o macho alfa da matilha.

E a verdade é que essa não era uma tarefa fácil. Numa altura em que não havia ainda CGI, Tony Scott consegue montar as cenas dos aviões de forma completamente legível, sem perder excitação e um sentido de espectáculo, mesmo estando limitando aos planos do interior do cockpit e a planos aleatórios dos aviões a riscarem os céus. Por exemplo, consta que a Marinha norte-americana apenas autorizou o disparo de dois mísseis, que Scott filmou de todos os ângulos possíveis e imaginários, para usar em todo o filme em situações distintas. E, ei!, a verdade é que funcionou. E quando funciona não há estratégias erradas.

Tom Cruise, Val Kilmer, Kelly McGillis, Anthony Edwards e até uma muito breve Meg Ryan: tudo actores ainda muito jovens e fresquinhos, que apareciam aqui no auge da sua forma física, em muitas cenas de cuecas, de óculos escuros Rayban ou de mota a assapar estrada fora, misturando assim em doses iguais testosterona e octanas aditivadas. Mas, verdade seja dita, nunca se entende muito bem como é que Val Kilmer saiu daqui com tanto sucesso, tendo em conta que a sua personagem só aparece em um par de cenas, bamboleando-se de forma muito arrogante e dizendo umas generalidades breves. Este McChicken lembra ainda o tempo em que os blockbusters não eram apenas sinónimo de entretenimento desmiolado e CGI à barda.

Título: Top Gun
Realizador: Tony Scott
Ano:1986

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