Antes de haver O Segredo De Brokeback Mountain havia Os Rapazes do Grupo. Um ano antes já tinha havido O Cowboy Da Meia-Noite, mas o filme de William Friedkin, que uma década depois haveria de realizar outro marco do cinema queer (olá A Caça), foi o primeiro a falar da homossexualidade de forma aberta e a derrubar tabus.
Os Rapazes do Grupo adapta ao grande ecrã a peça de teatro homónima que tinha sido um sucesso nos palcos nos anos anteriores, importando inclusive os próprios actores – muitos deles sem experiência de cinema, todos eles sem virem a ter uma carreira cinematográfica, mas nenhum sem comprometer, antes pelo contrário. Mas William Friedkin não se limita ao chamado teatro filmado. Os Rapazes do Grupo tem ideias dentro, com a mesma liberdade de um Cassavettes ou de um filme da nouvelle vague, não se limitando ao trabalho de actores. Actualmente, temos um tipo que andou a filmar coisas parecidas: Roman Polanski, com Carnificina o Vénus De Vison.
Como se espera de uma peça de teatro, Os Rapazes do Grupo passa-se quase exclusivamente num único cenário. Neste caso é a casa de Michael (Kenneth Nelson), que serve de anfitrião à festa de anos de Harold (Leonard Frey), uma bicha ressabiada com o hábito de se atrasar deliberadamente. Todos os convidados são amigos gays. Todos? Todos não, porque há em Os Rapazes do Grupo um antigo colega da universidade que aparece sem ser convidado e que vai colocar em jogo todas aquelas relações cruzadas.
Construído à base dos diálogos, muitos deles cruzados e maioritariamente improvisados, Os Rapazes do Grupo aborda vários temas e nem todos eles relacionados com a homossexualidade. Acima de tudo é uma história sobre amor, amizade, traição e relacioanamentos, mas debruça-se também sobre as drogas, a cultura popular e, claro, o ostracismo da comunidade LGBT. Além disso, é uma cápsula do tempo que preserva perfeitamente um tempo e época, mas que não está nada datado, porque estas questões continuam a ser pertinentes hoje em dia. O ontem como hoje. Os Rapazes do Grupo é, portanto, uma lição de cinema e um McRoyal Deluxe que segue uma tradição de filmes limitados a um espaço e a um grupo de actores de 12 Homens Em Fúria, A Corda, etcetera e tal.
Título: The Boys in the Band
Realizador: William Friedkin
Ano: 1970