Mesmo sabendo da carreira recente de Nicolas Cage, feita de mais altos e baixos do que uma montanha-russa, não conseguimos disfarçar alguma curiosidade mórbida quando lemos que Grand Isle é apenas o segundo filme da sua carreira a ter zero por cento do Rotten Tomatoes. Obviamente que nada pode ser tão mau quanto Left Behind – A Última Profecia, mas obviamente que um homem não é de ferro e não conseguimos resistir a ir espreitar Grand Isle.
E o que é verdade é que já vimos bem pior e a pagar. Grand Isle é uma espécie de neo-gótico sulista, montado como uma panela de pressão que irá explodir inevitavelmente, só não sabemos quando. Começa com Luke Benward, coberto de sangue, a ser apertado numa sala de interrogatório por um detective de forte sotaque do sul (Kelsey Grammer) sobre uma morte para a qual tudo aponta que ele seja o culpado. Mas Benward tem outra versão e, em formato flashback, lá voltamos atrás, até ao dia anterior, quando este foi parar à casa de Nicolas Cage e da sua esposa KaDee Strickland para arranjar uma vedação.
Uma sequência de coincidência e infortúnios infelizes vai acabar por montar um cenário que se revela o não mais aconselhável. Luke Benward está a passar por dificuldades financeiras, com um bebé doente em casa, o que o faz aceitar o bullying de um Nicolas Cage com problemas de temperamento (E de álcool. E de armas) para terminar o trabalho nessa mesma tarde. Nisso aproxima-se um tornado que os obriga a recolherem-se em casa para passar a noite e é nesse período nocturno que tudo se vai passar. Por entre os comportamentos mais bizarros de Cage e as insinuações sexuais de KaDee Strickland , Benward vai cair num caldeirão de violência e sexo em iguais proporções.
Salvo algum irrealismo à parte e a impossibilidade humana de condensar na mesma linha temporal tantos acontecimentos, Grand Isle não se revela um mau veículo para Nicolas Cage entrar modo full berserk. E até faz lembrar os hag-exploitation (mas sem velhas…) pelo seu ambiente gótico-sulista. Então o que correu mal em Grand Isle? Ao que parece, o realizador Stephen S. Campanelli não sabia como terminar o filme. Andou por ali a partir da cabeça e, depois de muito pensar… desistiu e nem sequer tentou em fazer qualquer sentido. De súbito, o último acto de Grand Isle é uma banhada completamente à toa, que parece que afinal queria reflectir sobre os militares, a desumanização da guerra e sua reinserção na sociedade, mas alguém se esqueceu de avisar quem escreveu o argumento. Mas pronto, já vimos Cheeseburgers bem piores de Nicolas Cage.
Título: Grand Isle
Realizador: Stephen S. Campanelli
Ano: 2019