Depois de ter alimentado cinco filmes, a ilha Nublar finalmente claudicou no último Mundo Jurássico – Reino Caído, deixando apenas uma opção a esta nova sequela: espalhar dinossauros pelo mundo todo! Sim, depois da destruição da Nublar, engolida pela erupção de um vulcão, os dinossauros espalharam-se pelo globo e agora há toda uma nova crise ambiental. Como convivermos todos juntos sem nos destruirmos mutuamente? Quase sem esforço, Mundo Jurássico – Domínio cria a metáfora perfeita para a crise ambiental que atravessamos e a qual já não é possível ignorar mais. Será que não conseguimos conviver todos neste terceiro calhau a contar do sol?
Se do ponto de vista da história esse era o único caminho que Mundo Jurássico – Domínio podia seguir, do ponto de vista do franchise só faltava fazer uma coisa: cruzar os protagonistas desta nova saga (Chris Pratt e Bryce Dallas Howard) com os da original (Sam Neill, Laura Dern e Jeff Goldbum). E ainda arranjaram espaço para introduzir duas novas personagens (DeWanda Wise e Mamoudou Athie), que serão provavelmente o futuro da série. E, provavelmente, alguém ainda notou que faltava algo nesta nova trilogia em comparação com os filmes de Steven Spielberg: uma criança! E, por isso, espremeu-se no elenco também Isabella Sermon, como a clone da filha de Richard Attenbourogh.
Se, por um lado, isso é um óptimo cartão de visita, por outro não há forma de o evitar. Mundo Jurássico – Domínio tem ideias a mais para apenas duas horas e meia de filme. São personagens a mais, sub-enredos a mais e tudo a mais. Tudo começa com Campbell Scott, o CEO da Monsanto, perdão, da BioSyn, uma empresa que procura estudar o código genético dos dinossauros para produtos medicinais, mas cujo verdadeiro intuito é criar um gafanhoto geneticamente modificado que come todas as plantações do mundo em segundos, excepto as sementes igualmente modificadas pela empresa. A ânsia pelo controle do mercado alimentar vai levar a um eminente perigo de extinção da Humanidade e, por isso, tudo se concentra para as montanhas italianas de Dolomitas, que agora são um santuário de dinossauros.
Chris Pratt e Bryce Dallas Howard vão em missão de resgate, depois da filha da Blue (lembram-se da velociraptor do filme anterior? Agora reproduziu-se de forma assexuada) e de Isabella Sermon terem sido raptadas pelos bandidos da BioSyn; Laura Dern e Sam Neill vão em buscas de provas de que a ByoSyn criou aqueles gafanhotos mutantes que andam a destruir o mundo; Jeff Goldblum já está lá, como o filósofo residente; DeWanda Wise é uma caçadora de prémios à Han Solo que vai ajudar os dois primeiros só porque sim; e Mamoudou Athie já trabalha na BioSyn. As histórias atropelam-se umas às outras, por vezes têm que tirar coelhos da cartola para conseguirem encaixar as peças e tudo é sempre muito action driven, de forma a vir desembocar naquele último acto nas montanhas Dolomitas, que são a nova ilha Nublar.
Isso não quer dizer que Mundo Jurássico – Domínio não tenha bons momentos. Há uma perseguição de mota e dinossauros nas ruas de Valetta que podia fazer parte de um qualquer James Bond e há um mercado subterrâneo de venda e luta de dinossauros, que parece a cantina de A Guerra das Estrelas. Contudo, isso são flashes num filme que é apenas um amontoado de situações, personagens (actores?) e dinossauros (felizmente com preferência sobre os normais e não sobre os geneticamente modificados). Há ainda muitas piscadelas de olho à trilogia original – até foram buscar novamente BD Wong, esta vez para fazer de chateadinho, já que passa o filme todo triste – e, claro, uma luta derradeira entre o t-rex e o giganotosaurus. Uff, que cansativo. Vou terminar o Happy Meal e dormir uma sesta, enquanto sonho com a possibilidade de fazerem só um filme sobre a personagem de DeWanda Wise, a minha nova action hero favorita.
Título: Jurassic World – Dominion
Realizador: Colin Trevorrow
Ano: 2022