| CRÍTICAS | Sinais do Futuro

Sinais do Futuro era um filme decisivo para o mexicano Alex Proyas. Não para a sua carreira, mas para a sua credibilidade aqui neste imodesto antro cinematográfico (que muitas vezes é mais importante que as próprias carreiras). É que, depois de um interessante O Corvo e um genial Cidade Misteriosa (vénias com saída à retaguarda), Proyas tinha assinado um muito fraquinho Eu, Robot, que nos deixou a todos desconfiado e sem saber o que pensar ao certo da sua arte de realizador. Terá sido Cidade Misteriosa um tiro de sorte ou foi antes Eu, Robot um acidente de percurso? Sinais do Futuro serviu para dissipar essas dúvidas.

Depois de desafiar deontologicamente as leis da robótica de Asimov, em Eu, Robot, Proyas voltou ao universo fantástico, com uma premissa que poderia ter sido magicada pela cabeça do também outrora genial, mas ultimamente em má forma, M. Night Shyamalan: uma menina solitária e que ouve vozes preenche uma folha a3 com números aleatórios, que mais não são que a previsão de todas as tragédias do Mundo que estão para acontecer. Claro que essa premonição vai parar, 50 anos depois, às mãos de quem está menos disposto a aceitar esse facto: John Koestler (Nicolas Cage), um cientista afectado pela morte da mulher, incapaz de acreditar no que quer que não seja racional e com um trauma que não o deixa representar em condições.

Eis Nicolas Cage com uma folha de papel que prevê todas as tragédias do Mundo, incluindo o armagedão final. O que é que isso dá? Claro, um filme-tragédia. No entanto, os produtores devem-se ter sentado à mesa e chegado à conclusão de que aviões a despenharem-se e metropolitanos descarrilados, tudo em CGI e em únicos long-shots, não era suficiente. E assim, acrescentaram-lhe extraterrestres, mascarados de mito de Noé, para recolherem uns escolhidos no fim dos tempos, ou não tivesse a personagem de Cage um passado religioso mal resolvido e uma estranha obsessão à Fox Mulder, de quem precisa de acreditar. Aliás, há muito de Ficheiros Secretos e dos seus medos contemporâneos em Sinais Do Futuro.

No meio desta mistura de filme-tragédia com filme de extraterrestres começam então a surgir buracos a mais, que fazem um queijo suíço parecer um couraçado de ataque. Para que é que os números têem que prever todas as tragédias do Mundo e não só o dia do armagedão final? Porque é que os extraterrestres se mascaram de albinos de gabardine? Porque é que os extraterrestres dão um seixo rolado preto às pessoas escolhidas? E, acima de tudo, porque é que termina tudo numa enorme treta de redenção new-age? Não há nada mais irritante que a new-age. Só a cientologia, claro.

Sinais Do Futuro é uma longa curva descendente e uma lição de como se estragar uma boa ideia, anexando-lhe toneladas de outras ideias cada vez piores. De aplaudir neste Cheeseburger só mesmo a coragem de fazer um filme com um tom tão apocalíptico. Veredicto final para Alex Proyas: fraude!

Título: Knowing
Realizador: Alex Proyas
Ano: 2009

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