O TOP 10 DO COSTUME, A 309 DIAS DO DUNE – PARTE 2
Mais um ano, mais um top 10. E que ano, meus caros. Ao fim de dois anos e tal de andarmos à míngua de filmes, qual estado de emergência de seca ibérica, eis que se abrem as barragens todas aos mesmo tempo e vejo-me na posição algo kamasutrica de ter de decidir que títulos deixo no pódio e quais tenho de exilar para as menções honrosas. The horror, the horror. Que critérios me guiarão nas minhas escolhas finais, além de, claro, não querer que me retirem o cartão de hipster cinematográfico? Que realizadores me conseguiram aquecer o coração neste ano em que, qual freira carmelita recheada de ovos moles, espero ansiosamente que o Villeneuve acabe a segunda parte do Dune? Em que dois dos meus guilty pleasure directors (Pedro, os estrangeirismos vão ficando piores com a idade, desculpa), Emmerich e Cameron, lançaram pitéus novos cá para fora? Sem mais demoras (que segundo os estudos a capacidade de concentração do adulto médio tem vindo a diminuir, a não ser que o conteúdo venha no Disney+), aqui estão os meus sofridos 10 filmes preferidos de 2022.
10º Lugar
The Forgiven, de John Michael McDonagh
Nem me reconheceria a mim própria se não começasse com um filme que quase ninguém viu. Do senhor que nos deu o Calvary, The Forgiven fala de um casal inglês (Ralph Fiennes e Jessica Chastain) que vai para o meio de Marrocos para uma festa de uns amigos gays. Sobre choques culturais, gentrificação e honra, é um filme daqueles à moda antiga, que tem um cheirinho ocasional a Bertollucci e brinca na linha engraçada entre o Medo do Outro & o Outro é, efectivamente, perigoso.
Bónus – Matt Smith a Matt Smithar.
9º Lugar
The Batman, de Matt Reeves
Sim, o Matt Reeves fez aquela adaptação manhosa do Deixa-me Entrar, mas ninguém é perfeito. Tendo sempre dificuldades em me manter acordada durante a maior parte dos filmes de super-heróis que vejo, mas, por outro lado, sendo uma fã do Batman enquanto conceito (bilionários que ajudam a comunidade, lols), estava algo receosa de pagar para ver esta coisa, principalmente depois de ter sofrido com a trilogia do Nolan. Mas fiquei rendida nos primeiros 15 minutos. Qualquer filme do Batman que decida gozar de maneira tão aberta com as expectativas da sua audiência daquela maneira, tem o meu voto e admiração.
Bónus – o arrastar doloroso do fato pelo ex-vampiro fluorescente, R. Pattinson.
8º Lugar
Os Fabelmans, de Steven Spielberg
Eu não queria gostar deste filme. Primeiro, porque só o vi ontem e já tinha o top 10 decidido. Segundo, porque gostar do Spielberg no ano da graça de 2022 é, como diz a Gen Z, cringe. E terceiro, porque filmes autobiográficos não costumam ser, e espero estar a utilizar o termo técnico correcto, grande espingarda. Mas o senhor Spielberg estava inspirado e deixa-nos aqui uma visão com espinhas do que significa realmente dedicarmo-nos a uma arte, com todos os custos emocionais e sacrifícios pessoais que isso acarreta. E, caso queiram saber, eu também trairia o Paul Dano pelo Seth Rogen.
Bónus – aquele plano final.
7º Lugar
Bodies Bodies Bodies, de Halina Reijn
Eu tento manter-me à tona e relevante em relação às novas gerações, sobretudo por razões de trabalho. Eu tenho um TiqueToque. Eu percebo os memes. Eu deixei de usar calças justas e comecei a pôr a t-shirt por dentro dos jeans. Mas, no fundo no fundo, sempre serei uma millennial. E enquanto tal, nada me deu tanto prazer como este filme, um assassinato a sangue frio da geração conhecida como Z, aqueles miúdos idiotas que, aos meus olhos, são apenas uma versão menos rugosa, mais tecnológica dos boomers, inserido numa versão moderna americanizada daquelas festas em que alguém se lembrava de jogar ao Quarto Escuro e tudo acabava em lágrimas.
Bónus – Pete Davidson, o sex symbol que merecemos.
6º Lugar
O Homem do Norte, de Robert Eggers
Na categoria de filmes que não precisava de ver para saber que iam parar por aqui, temos o meu sonho húmido, Alexander Skarsgard, a interpretar Amleth, um miúdo nórdico que tem de vingar a morte do pai, assassinado pelo tio, que aproveitou depois para se espetar na cama com a mãe. Se vos soa familiar, não é por acaso – Eggers copiou descaradamente O Rei Leão, da Disney, e esperemos que sobreviva ao processo criminal de infringimento de copyright. Incesto! Vikings! Morte! Vulcões! Bjork!…??
Bónus – os vídeos de Youtube com os treinos do Skarsgard para poder andar em tronco nu por este filme fora.
5º Lugar
Top Gun: Maverick, de Joseph Kosinski
O sucesso inesperado(?) do Verão também aqui anda e confesso: até paguei para o ver duas vezes. Big boss da Cientologia, Tom Cruise leva-nos pela mão numa aventura que mostra que não há CGI no mundo que chegue aos pés de ver filmagens que poderão servir um dia de provas num caso de seguro de vida. Há muito tempo que não tínhamos este tipo de filme de acção de Domingo à Tarde em bom e o público reagiu, atirando notas de várias nacionalidades aos produtores. Aquela sequelazinha que é tão melhor que o original, sabe-nos a pato. Ou a Ganso, aliás.
Bónus – a teoria de que o Maverick morreu no início do filme, naquele superjacto, e tudo o que vem depois é um death dream.
4º Lugar
RRR, de S. S. Rajamouli
Quem seria eu se não colocasse pelo menos um filme em língua estrangeira nesta lista? O fenómeno indiano que tomou conta dos Estados Unidos e que todos podemos ver agora nos nossos Netflixes é um hino cinematográfico ao maximalismo em excesso. Não têm a certeza se é um filme para os vossos gostos delicados, habituados à austeridade escandinava de um Dreyer ou à subtileza imóvel de um Antonioni? Vejam os primeiros 10 minutos. É demais? Parem agora, porque durante as próximas três horas a intensidade vai subir, com números de dança, tigres, explosões e o bromance do ano.
Bónus – o sorriso que não vos vai sair da cara sempre que se lembrarem deste filme.
3º Lugar
O Menu, de Mark Mylod
E se o Ralph Fiennes vos convidar para uma ilha privada onde vos dará uma experiência culinária inesquecível? Digam que não. A minha escolha de comédia negra do ano, a crítica acérrima ao mundo dos foodie e à crítica em geral, não é para todos os estômagos. Há que ter apetite e uma mente aberta ao tipo de humor que nos é posto na mesa. Definitivamente, não recomendado para pessoas que se levam demasiado a sério ou que estão dispostos a pagar o triplo por qualquer ingrediente que tenha gourmet na etiqueta.
Bónus – a vontade de comer um cheeseburger depois do filme.
2º Lugar
Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo, de Dan Kwan & Daniel Scheinert
O filme que estava no meu número 1 até recentemente tem o seu quê de Coca-Cola: primeiro estranha-se, depois entranha-se. A uma velocidade mirabolante de multiuniversos, Michelle Yeoh desdobra-se em todos os papéis de uma vida enquanto tenta resolver uns assuntos nas Finanças (quem nunca). É a originalidade, efeitos especiais (todos caseiros, renderizados durante a pandemia), e um guião que, apesar de ter um final ligeiramente com excesso de sacarina, não deixa de ser muito bom.
Bónus – Raccacconie.
1º Lugar
Triângulo da Tristeza, de Ruben Ostlund
Há claramente um tema central este ano e o meu número 1 é o exemplo perfeito do pirete feito às classes altas. Desde aquela cena de jantar que fez todos os casais na minha sessão rir nervosamente, passando pelo iate de luxo com o russo capitalista, o capitão comunista e uma mise-en-scène de ir ao vómito, até ao momento Senhora das Moscas na ilha deserta, em que, finalmente, o saber apanhar peixe e fazer uma fogueira superam o dinheiro no banco, fiquei coladinha ao ecrã, sem saber muito bem o que ia acontecer a seguir. Ok, os últimos minutos não são perfeitos, mas bolas, o filme tinha de acabar nalgum momento, de alguma maneira. Mal podemos esperar pelo próximo do Ostlund (que será, pelos vistos, dentro de um voo de longa distância).
Bónus – um rebuçadito de mentol.
Menções honrosas
Coisas que quase chegaram ao top 10 – Moonfall (não é a sequela do Skyfall). Boa Sorte, Leo Grande (uma espécie de Pretty Woman – Um Sonho de Mulher, mas em britânico). Bones and All (esperava que a tradução portuguesa do título fosse Comia-te Todo, Timothy Chalamet); Vengeance (Texas baby.). Aftersun (vibes only). Sorri (um filme de terror baseado em sorrisos – sim por favor).
Outras coisas boas, sem ordem específica – Glass Onion – A Knives Out Mistery (pelas roupas). Do Revenge. Decisão de Partir. Weird: the Al Yankovic Story. O Peso Insuportável de um Enorme Talento. Bullet Train. Um Lobo Entre Nós. Navalny (lamento, o único documentário de longa metragem de que gostei este ano – aceitam-se outras recomendações). Gritos, a requela.
Coisas que vi mas, nah, não obrigado.
Don’t Worry Darling (não necessariamente terrível, mas parecem ter-se farto do filme a meio e resolveram acabar às três pancadas). E a crise de meia-idade do James Cameron, Free Willy 5 – Vão todos de Baleia para Casa. (não tenho a certeza da tradução do título, Pedro) nota do editor: é esse o título, Sara.
Não percebo o hype.
Tár (mas o óscar vai para a Blanchett). Os Espíritos de Inisherin (mas o óscar vai para o Farrell). Nope (mais Meh para mim). Elvis (alguém que diga ao Luhrmann que é ok ter edição normal nos filmes). Fire of Love (a voice over irritou-me tanto, que ainda não tive coragem de ver o filme do Herzog sobre o mesmo tema). A monarquia britânica. (dos funerais reais aos documentários do Netflix. Esta temporada da The Crown também não foi grande coisa.)