A Baleia ficará para sempre conhecido como filme que marcou o regresso de Brendan Fraser. Nada de novo na filmografia de Darren Aronofsky, que já tinha feito algo de semelhante com Mickey Rourke, se bem que em O Wrestler o apagamento do nome do realizador não tivesse sido tão pronunciado. Mas já lá vamos.
A Baleia é a história de um tipo que sofre de obesidade mórbida (Brendan Fraser mergulhado num fato de carne gigante) e que, por isso, vive recluso na própria casa, trabalhando remotamente (mas mantendo sempre a webcam desligada, para que os alunos das suas aulas não o vejam e julguem pelas aparências) e contando com a ajuda de uma amiga enfermeira (Hong Shau). Aronofsky também já tinha feito isto anteriormente e, com isto, refiro-me a tratar de outras formas de adição: a droga, em A Vida Não É Um Sonho.
Havia, portanto, o perigo de cair no exibicionismo e na exploração gratuita da deformidade. E, apesar de haver um pouco de fascínio mórbido por esse grotesco, nas cenas em que Fraser devora baldes de comida ou nas migalhas que estão quase sempre presente no seu regaço, a verdade é que não se pode acusar o filme de exploitation. Contudo, é Fraser o principal responsável por isso, já que dá humanidade aquela personagem, principalmente com os seus enormes olhos brilhantes, que representam muito mais do que o seu corpo submerso em próteses. Já tudo foi dito e escrito sobre a sua interpretação e é tudo justo. Fraser merecia o Oscar e, se não tivesse levado a estatueta para casa, poderia chamar legitimamente a polícia por roubo.
Baseado na peça homónima escrita a partir das experiências pessoais do próprio autor, Samuel D. Hunter, A Baleia é um filme que não escapa a essa lógica de teatro filmado. No entanto, ao contrário de outro título que também esteve nos Oscares no último ano e que explora esse molde a partir dos códigos do cinema de género (alguém se lembra de O Pai?), A Baleia tem pouco cinema dentro. O que não deixa de ser surpreendente em Aronofsky, que é um realizador que gosta sempre de mostrar um certo virtuosismo exibicionista. De grosso modo, a principal ideia de cinema que encontramos em A Baleia é mesmo a opção estética de o apresentar em 4 por 3. Aronofosky justificou-se, dizendo que era para aumentar a claustrofobia de Fraser, um prisioneiro no seu próprio lar, mas a verdade é que é só pretensioso.
Mas o pior de A Baleia é mesmo o facto de parecer ter muito mais para dizer do que é dito. Há uma evidente boa vontade em querer explorar os problemas da comunicação e dos relacionamentos (há a filha adolescente (Sadie Sink), com quem Fraser se tenta reconciliar, e há um jovem evangélico (Ty Simpkins) que surge lá em casa e que vai aparecendo por lá porque é conveniente para a história) e há personagens interessantemente complexas, que desafiam inclusive a nossa empatia, mas caminha sempre tudo para um pastelão insonso, até descambar numa xaropada quase beata. É certo que A Baleia não é um desastre tipo o Noé, mas se não fosse a prestação de Brendan Fraser e podíamos estar aqui a encomendar algo bem pior do que o Cheeseburger.
Título: The Whale
Realizador: Darren Aronofsky
Ano: 2022