Becky teve alguma graça pela forma como subvertia os códigos do género do filme de vingança, colocando uma criança – Lulu Wilson, com apenas 13 anos no papel – como máquina de matar, sedenta de sangue. O filme não se conseguia aguentar até ao final, porque sucumbia à irrisão total, mas não deixava de gerar algum interesse.
Foi interesse suficiente para garantir uma sequela, pelo menos. A Fúria de Becky surge três anos depois, agora com Lulu Wilson com 16 anos. E, desta vez, já não há qualquer tipo de novidade ou de surpresa. Por isso, os realizadores, Matt Angel e Suzanne Coote, atiram-se de cabeça para o cartunesco, abraçando a fantasia com ambos os braços. E com muita, muita força.
Por isso, não há em A Fúria de Becky nada para ler nas entrelinhas. É apenas um veículo desmiolado para todos os amantes do gore pateta. E não há nada de mal nisso, desde que, pelo menos, o pessoal se esforce um bocadinho. É que o filme é altamente derivativo. Há um cão, que remete logo para John Wick, mas que acaba por ser apenas mais um acessório num filme que é essencialmente decorativo. E A Fúria de Becky até repisa as suas próprias pegadas, ao repetir a história do filme original. No tomo original, Becky vingava-se de neo-nazis que lhe matavam o pai. Aqui, vai vingar-se de neo-nazis que lhe matam a “mãe emprestada”. É certo que nazis são um inimigo fácil de odiar, mas a sério que era preciso ser assim tão preguiçoso?
Portanto, não há uma pinga de originalidade ou emoção em A Fúria de Becky, que é todo unidimensional e com espessura de cartão. E até o vilão de Seann William Scott, que poderia beneficiar aqui de um papel diferente daquele do qual o estamos habituados a ver (como acontecia com Kevin James, em Becky), não poderia ser mais bocejante. A Fúria de Becky é um desperdício de tempo, difícil de descrever por palavras, porém fácil de descrever em Hamburgas de Choco.
Título: The Wrath of Becky
Realizador: Matt Angel & Suzanne Coote
Ano: 2023