| CRÍTICAS | As Aventuras de Rocketeer

Antes de ter comprado a Marvel, criado o MCU e transformado o cinema de massas numa monocultura intensiva, a Disney já havia realizado o se primeiro filme de super-heróis. Foi em 1991, chama-se As Aventuras de Rocketeer e, apesar de hoje pouca gente se lembrar dele, merece o nosso carinho.

Um dos problemas que tornam As Aventuras de Rocketeer esquecível em 2023 é que se passa no final dos anos 30 do século passado, um período muito específico e com muito pouco a ver com o mundo digital e Uber-tecnológico de hoje. Por isso, o nosso herói é apenas um piloto corajoso, com um jetpack às costas, décadas antes de Michael Jackson deixar toda a gente abismada nos seus concertos. Muito pouco para um mundo onde hoje há armaduras de ferro cheias de engenhocas, mutantes e seres de outros mundos de todas as cores.

As Aventuras de Rocketeer é assim um proto-filme de heróis, com um toque retro-futurista e um pé no steampunk, enformado no filme de guerra. Afinal de contas, estamos em 1930 e, do outro lado do Atlântico, um tipo de bigodinho ridículo começa a parecer ser uma ameaça bem maior do que se pensava. Não admira que o realizador de As Aventuras de Rocketeer, Joe Johnston, tenha sido o escolhida pela Disney para fazer Capitão América – O Primeiro Vingador.

É também o período de ouro de Hollywood e As Aventuras de Rocketeer, que é ambientado neste mundo, presta-lhe um tributo carinhoso. Há até o próprio Howard Hawks (Terry O’Quinn), com laivos de Tony Stark, mais uma série de referências divertidas. As Aventuras de Rocketeer é como uma versão ingénua de Babylon. E há muita influência dos serials de domingo à tarde, com Errol Flynn à cabeça, que por sua vez influenciara Indiana Jones e que é também a outra referência notória.

Há então um jetpack inovador perdido, a que todos querem deitar a mão. O FBI quer torna-lo numa arma a serviço dos bons, os nazis querem emprega-lo para o mal e Howard Hawks quer apenas enterra-lo onde ninguém lhe possa pôr a mão. E no meio deste jogo de gangsters, o jetpack cairá no colo de um jovem destemido piloto, Billy Campbell, mais o seu amigo engenhocas (Alan Arkin), acabando por assiro involuntariamente o alter-ego de Rocketeer e salvar o dia.

As Aventuras de Rocketeer passa-se naquela altura em que o cinema era mais fácil. Os maus eram maus e os bons eram bons, sem zonas cinzentas, em que sabemos por quem torcer e quem odiar, limitando-nos a desfrutar do entretenimento meio pateta. As Aventuras de Rocketeer é assim um filme mocinhos contra bandidos, onde há vilões com bigodinhos ridículos (um óptimo Timothy Dalton) e donzelas em apuros (uma jovem Jennifer Connolly). Vê-se sem fastio e aprecia-se cada dentada no McBacon sem qualquer sentimento de culpa. De quantos filmes de super-heróis da Marvel podemos dizer isto?

Título: The Rocketeer
Realizador: Joe Johnston
Ano: 1991

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