Mary Shelley é a mãe do monstro de Frankenstein, uma das mais conhecidas criaturas da cultura popular, mas o que poucos se lembram é que essa também tem um pai. James Whale foi o realizador dos dois filmes originais de Frankenstein, com o Boris Karloff, e foi ele que cunhou a imagem a que associamos imediatamente ao monstro, com a sua cabeça chata, costurada e com parafusos saídos de lado.
Deuses e Monstros – que pega o título emprestado a uma citação do filme, Frankenstein – é um biopic sobre os últimos dias de Whale, antes de cometer suicídio na piscina da sua casa. E, esmo com o renascimento recente de Brendan Fraser – o Brendansance -, parece que continua a ser um filme esquecido por muito boa gente. Mas aproveito para o escrever já neste segundo parágrafo: Deuses e Monstros é o melhor filme da carreira de Fraser.
Ian McKellen interpreta James Whale, um velhote reformado a passar os seus últimos dias a pintar, a cobiçar jovens novos e em cumplicidade com a sua empregada de sempre (Lynn Redgrave), que vai desenvolver uma obsessão platónica pelo novo jardineiro. Este é precisamente Brendan Fraser, que apesar de não ser homossexual – é até bastante homofóbico -, acaba por desenvolver também uma relação de amor/ódio com aquele dirty old man.
No fundo, Deuses e Monstros é um filme sobre a solução, se bem que a solidão daqueles dois homens é bem diferente. E a de James Whale é anda trespassada pelo trauma das trincheiras da Grande Guerra, pela homossexualidade reprimida e pelo ostracismo público a que foi votado depois de alguns fracassos de bilheteira. Quando morre, Whale não filmava há 16 anos. Por isso, a sua história encontra o reflexo perfeito na do monstro de Frankenstein, essa criatura incompreendida que só queria ser amado. Assim, o realizador Bill Condon tanto recorre a imagens dos filmes originais da Universal como recria algumas cenas irónicas, com Fraser a fazer de Doutor Frankenstein.
Apesar de ser um drama complexo, Deuses e Monstros nunca é muito profundo, tornando-o acessível e levezinho. O pior é mesmo a falta de química entre Ian McKellen e Brendan Fraser, especialmente por culpa do segundo, que se limita a estar ali parado com a sua cara de parvo. Deuses e Monstros podia ser bem melhor do que é, um McBacon eficiente que até venceu o Oscar para melhor argumento sem ter sequer uma nomeação a melhor filme.
Título: Gods And Monsters
Realizador: Bill Condon
Ano: 1998