| CRÍTICAS | Clown

A coulrofobia é o medo incontrolável de palhaços, uma doença real que afecta muitas crianças e outros tantos adultos. Por isso, é uma fobia explorada amiúde pelo cinema de terror, até porque, sejamos sinceros, os palhaços são figuras sinistras. O mais popular será, provavelmente, o It – Palhaço Assassino, do Stephen King, mas há toda uma mitologia de filmes de terror com palhaços malignos, que vai até coisas mais esquisitas como SOS – Palhaços Assassinos. E depois há Clown.

Jon Watts, que actualmente é o tipo responsável pelo franchise do Homem-Aranha, já tinha ensaiado uma versão inicial de Clown, em formato de curta-metragem, quando era apenas um jovem e promissor realizador a fazer teledisco e coisas para o The Onion. Mas foi preciso ter sido um dos nomes a refazer o RoboCop, no Our RoboCop Remake, para conseguir juntar dinheiro para a versão longa. O sucesso do filme abriu-lhe as portas da Marvel e hoje todos conhecemos o seu nome.

Clown é a simples história de um tipo ordinário, Kent (Andy Powers), que, quando o palhaço que havia contratado para a festa de anos do filho cancela à última da hora, veste um fato que encontra perdido numa mala numa casa vazia que está a vender e improvisa um Batatinha da Wish. A coisa até corre inesperadamente bem, tendo em conta o tempo de preparação, mas o pior vem no dia seguinte. Ao adormecer com o fato vestido, Kent não mais consegue retira-lo. E à medida que este começa a mudar gradualmente, parecendo fundir-se com a sua própria pele, também começa a crescer no seu âmago um apetite voraz por… crianças.

Parece uma premissa um pouco parva, mas Jon Watts trata-a com tanta confiança e convicção que Clown nunca é um daqueles filmes de terror pateta, que procura encontrar no escapismo do humor uma solução para a sua premissa parva. Além disso, magica uma origem alternativa para um demónio clownesco, que subverte a natureza amigável do palhaço, da mesma forma que Matança de Natal fazia o mesmo com o Pai Natal. Por isso, rapidamente Clown se vai tornar num creature movie, em que Kent se vai tornando cada vez mais grotesco.

É nesse build up gradual e bem feito que Clown ganha o filme, já que aquela personagem inicial, com uma cabeleira colorida de caracóis e um nariz vermelho estupidamente falso se tornará na sua completa antítese. E quanto mais assustador se torna, mais Clown se vai tornando sangrento e gráfico. Com isso, vai chegar inevitavelmente a uma altura em que já mais nada interessa sem ser a ameaça (e tendo em conta que são apenas as crianças que estão em perigo, Kent até pode funcionar como uma metáfora à ameaça da pedofilia) e é nessa altura que o filme começa a perder interesse. Jon Watts percebe isso e arruma a trouxa, fechando então o arco narrativo rapidamente, com um lacinho no topo e um McChicken a acompanhar. Um belo filme de terror, tão simples quanto pragmático.

Título: Clown
Realizador: Jon Watts
Ano: 2014

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