Agora parece estar melhor, mas até há bem pouco tempo parecia haver uma obsessão qualquer da internet com as abelhas. As redes sociais estavam cheias de posts que alertavam para o declínio das abelhas e como isso iria ser o fim da Humanidade, já que sem abelhas não polinização e sem polinização não há vida. Tudo isto vinha sempre acompanhado com respectivas citações de Albert Einstein, o tipo que parece ter uma citação para tudo no mundo da internet.
The Beekeeper – O Protector não é o primeiro filme sobre abelhas e apicultores. Esse foi Honeyland – A Terra do Mel, esse belo documentário da Macedónia do Norte que lhe viu roubado um Oscar a favor daquele sobre o tipo apaixonado por um polvo. Mas Beekeeper – O Protector é o primeiro que utiliza essa obsessão pelas abelhas para fazer uma metáfora qualquer para com alguma organização ultra-secreta do governo americano.
Os beekeepers são então uns super-agentes americanos de um programa secreto que têm total liberdade para agirem como bem entenderem, caso vejam a sociedade em perigo. O programa vai buscar o nome às colmeias, porque nestas, quando a abelha-rainha se porta mal, as outras agem para recuperar o equilíbrio da comunidade. No entanto, quando alguém pergunta a Jeremy Irons se o presidente dos Estados Unidos não pode ligar ao tal beekepeer e pedir-lhe para parar de matar toda a gente, este responde-lhe que não, porque, ao contrário das abelhas, o nosso beekeeper só para de trabalhar quando chegar ao fim da sua missão. Bardamerda, então o filme nem consegue suportar a sua própria metáfora?
Jason Statham é então Adam Clay, um antigo agente beekeeper que agora está reformado e que vive descansado a fazer mel e a ser um apicultor de verdade. Nunca sabemos muito sobre o seu passado nem tão pouco quem é a simpática vizinha idosa (Phylicia Rashad) que toma conta dele, mas isso é a beleza da economia narrativa dos filmes xunga. Até que um dia uma empresa manhosa de phishing liga para a senhora, engana-a e leva-a a entregar os códigos do banco e rouba-lhe o dinheiro todo, incluindo o de uma organização de caridade que lidera. Por isso, no dia seguinte ela suicida-se e Statham jura vingança. Mesmo que do outro lado acabe por estar uma das pessoas mais poderosas do planeta.
Jason Statham procura emular o sucesso recente de John Wick, o do tipo que é uma autêntica máquina de matar, mesmo que do outro lado a ameaça seja sempre em número superior. Statham está sempre calmo e com ar cool, impecavelmente vestido com um fato de alta costura e não hesita duas vezes em se meter na boca do lobo (ou seja, entrar num edifício duplamente cercado pelas forças especiais pela porta da frente só porque pode ou infiltrar-se na Casa Branca depois de o avisar) porque sabe que vai distribuir bofetada a torto e a direito. O único que lhe dá alguma luta é Taylor James, um mercenário que cai do céu por não ter unhas já perto do final, porque o realizador David Ayer apercebe-se que não tem um vilão que lhe permita ter uma cena de porrada maior no final.
No entanto, a herança de The Beekeeper – O Protector é antes a dos action heroes fascistas dos anos 80, do vigilantismo e da justiça pelas próprias mãos, ainda que haja a detective Emmy Raver-Lampman, que é uma espécie de contraponto moral à actividade de Statham. Mas claro que no final ela vai concordar com ele, até porque, como em todos estes filmes, a corrupção nunca é sistémica nem estrutural, mas apenas resultado de um par de maçãs podres, que basta eliminar para tudo voltar a ficar bem.
The Beekeeper – O Protector tem um par de boas cenas de acção, uma crueldade que, por vezes, é inesperadamente desajustada ao resto do filme, mas no final é apenas mais uma derivação pateta das xungarias que os anos 80 produziram ao pontapé. O seu inesperado sucesso – e que vai gerar milhentas sequelas, está-se mesmo a ver – deve-se apenas à nostalgia por filmes de acção sem muitas gorduras. Mas já vimos mais e melhor do que este Happy Meal, não nos deixemos enganar pelo fogo de vista, pela publicidade e pela metáfora fofinha com as abelhas.
Título: The Beekeeper
Realizador: David Ayer
Ano: 2023