Ao concluir a sua trilogia meta, com O Homem dos Teus Sonhos, Nicolas Cage anunciou a sua intenção de se retirar do cinema. Parecia o timing perfeito. Há quanto tempo Cage não fazia um filme de jeito?, quanto mais três de seguida(!). Mas ainda O Homem dos Teus Sonhos não tinha arrefecido e já havia mais dois filmes novos a estrearem(!!).
O Plano de Reforma, o mais recente deles, é aquilo a que se chama de payment check movie. Ou seja, é um filme que serva apenas para os actores receberem o cheque e saldarem as contas em atraso, pagarem o que devem ao dealer e pagar o IMI. O Plano de Reforma é um série b altamente derivativo, muito a metro a partir de todos os lugares-comuns do género, em que ninguém se esforça minimamente. A excepção? O penteado de Nicolas Cage, desta vez de longos cabelos grisalhos à surfista e barba.
O Plano de Reforma começa com um assalto que correu mal. Mas o filme nem chega a ser um heist movie. Jimmy (Jordan Johnson-Hinds) e um amigo roubam uma pen drive ao rei do crime local (uma pen drive em 2024, a sério?), mas o segundo foi baleado fatalmente e o primeiro identificado. Infelizmente, ninguém considerou a hipótese do assalto correr mal e precisarem dum plano b. Eis, oficialmente, o pior assalto da história dos assaltos.
Jimmy entrega a pen à mulher (Ashley Greene) e à filha (Thalia Campbell) e envia-as para as Ilhas Caimão, onde vive o pai com quem cortaram relações à muito. O pai é precisamente Nicolas Cage, que o filme tenta recorrentemente passar a ideia de que é um velhinho reformado, um tipo com um passado escondido. Pertinentemente foi um agente especial do governo, especialista em resolver problemas bicudos com as próprias mãos. Por isso, quando o tal rei do crime (Jackie Earle Haley, numa mistura falhada entre o Joe Pesci e o Sailor Ripley, do próprio Cage) envia Ron Perlman e os seus capangas para recuperarem a pen, vai acontecer uma chacina de maus efeitos-especiais e coreografias de porrada mancas.
Há ainda um sub-plot com Ron Perlman e a jovem sobrinha de Nicolas Cage, em que desenvolvem um interessante síndrome de Estocolmo, mas que rapidamente percebemos que vai ser desavergonhadamente sub-explorado. Por isso, O Plano de Reforma desenvolve-se rapidamente até ao final feliz, pisando todas as pegadas expectáveis, servindo apenas como um triste pretexto para os intervenientes irem passar uns dias às ilhas Caimão. Mesmo sendo um payment check movie, custa um pouco conseguir terminar o Happy Meal.
Título: The Retirement Plan
Realizador: Tim Brown
Ano: 2023