Ted Kaczynski, ou melhor, o Unabomber, foi um dos mais peculiares terroristas da história moderna. Até ser capturado pelo FBI em 1995, Kaczynski passou quase 20 anos a enviar cartas armadilhadas, que mataram 3 pessoas e feriram mais de 20, combatendo a industrialização e a tecnologia moderna, a favor de uma espécie de anarquismo naturalista e primitivo. De uma forma extremista, Ted Kaczynski antecipou assim em mais de duas décadas o activismo ecológico. E sempre que um jovem activista atira sopa ou tinta a um quadro famoso num museu, para escândalo paternalista do grande público, Kaczynski ri-se na prisão, onde continua a cumprir pena perpétua e diz eu avisei.
Não é a primeira vez que o Unabomber chega ao cinema (ou à televisão), mas esta proposta de Tony Stone é peculiar. Mais do que uma biografia do homem, o que Ted K – O Unabomber se propõe (a enésima vez em que o título em português se encarrega de ser mais descritivo do que se queria) é mergulhar no seu íntimo, numa espécie de filme imersivo (para usar esse palavrão hediondo que agora está na moda e que serve para descrever todas as experiências que se querem inesquecíveis). Assim, Tony Stone convida-nos a irmos viver com aquele tipo para o meio da floresta, sem electricidade e sem água potável, numa espécie de eremitismo ideológico, enquanto deambula por ali, alucina uma beca e tem algumas discussões com o irmão pelo telefone.
Por um lado, Ted K – O Unabomber tem aquela faceta idealizada de O Lado Selvagem, que transforma o campo em local idílico, altamente bucólico, que serve mais para diabolizar a cidade em contraste do que tirar uma radiografia real da natureza. Obviamente que não vai tão longe quanto O Lado Selvagem, com a sua banda-sonora fofinha do Eddie Vedder ao ukelele (aqui a banda-sonora de Blanck Mass é cheia de graves saturados e arestas perigosas, mais canções de Van Der Graaf Generator ou Type O Negative), mas por vezes as propostas cruzam-se.
Com a narração dos próprios escritos do Kaczynski real, Ted K – O Unabomber tem ainda um par de alucinações (incluindo Amber Rose Mason, uma mulher que não é real e que tem um par de cenas) que procuram explicar de forma mais descritiva o que vai na cabeça daquele tipo. São, no entanto, distracções escusadas e cenas que não só não acrescentam nada, como parecem pertencer a outro filme. O melhor de Ted K – O Unabomber é mesmo a sua parte telúrica e mundana, uma espécie de diário por entre tarefas básicas: cozinhar, escrever, passear no campo e montar bombas(!). Pode não ser um grande filme – um Cheeseburger nunca é propriamente uma proposta muito boa do que quer que seja -, mas é, ao menos, uma tentativa de fugir à fórmula habitual do true crime, sub-género para o qual já não há pachorra.
Título: Ted K
Realizador: Tony Stone
Ano: 2023