| CRÍTICAS | A Rapariga da Casa Isolada

Em 1976, Jodie Foster estreou, nada mais nada menos, do que 5 filmes(!). Números sempre impressionantes, mas ainda mais tendo em que contra que tinha apenas 13 anos e nada de relevante na carreira até então. Desse conjunto, o título mais lembrado é, naturalmente, Taxi Driver – além de ser um monumento da história do cinema, também foi o título que consagrou Jodie Foster. Depois, lá nos vamos lembrando de As Aventuras de Annabel sempre que há um remake ou, mais a espaços, de Bugsy Malone. Caído no esquecimento está A Rapariga da Casa Isolada, especialmente tendo em conta que é um filme sobre crianças assassinas, pedofilia e sexo entre menores.

Jodie Foster sempre renunciou A Rapariga da Casa Isolada e isso também não ajudou ao futuro do filme. No entanto, este não é tão bizarro quanto a descrição possa soar. E, claro, há sempre a curiosidade mórbida de alguns dos temas abordados ressoaram com a própria vida pessoal de Foster, quando, no início dos anos 80, esteve envolvida num célebre caso de stalking e obsessão, que terminou com a tentativa de assassinato do então presidente Ronald Reagan.

Em A Rapariga da Casa Isolada, Jodie Foster projecta aquela sua imagem de mulher crescida e fora da sua idade real, que marcou a sua ascensão enquanto child star. Foster vive numa casa enorme e, apesar de insistir com os vizinhos que a visitam que o pai está trancado no estúdio a traduzir poesia russa ou no quarto a dormir, começamos a suspeitar de algo estranho naquela ausência. Sim, não há pais presentes, mas talvez não estejam preparados para a revelação da verdade.

A Rapariga da Casa Isolada inscreve-se no sub-género dos thrillers com crianças homicidas que estava muito em voga na altura (alguém mencionou O Génio do Mal?), mas vai muito mais além. É que, por entre os visitantes regulares (os outros são a senhoria ou o polícia local), está um perturbador Martin Sheen, conhecido pedófilo local que todos toleram por ser filho da ricaça da vila. A isso vai ainda juntar-se uma cena de nudez (Foster haveria de se queixar do realizador Nicolas Gessner, que queria muito mais) e sugestão de sexo entre menores, que podia levantar questões sobre o consentimento, mas como sem sequer se aproxima daí, o filme fica-se apenas por algum exibicionismo gratuito.

A Rapariga da Casa Isolada é então um estudo de carácter sobre uma personagem mais complexa do que parece à primeira vista e que critica frontalmente a desvalorização que a sociedade faz dos jovens (olá Greta Thunberg). Contudo, apesar do filme estar sempre a atirar essas cartas para a mesa, que reclamam o thriller psicológico, Gessner insiste em puxa-lo mais para uma espécie de melodrama televisivo, com banda-sonora assíncrona. E, por isso, terminamos coma sensação de que vimos dois filmes em simultâneo. E se foi Taxi Driver que fez de Jodie Foster Jodie Foster, o que dizer do plano fixo de 3 mútuos do seu rosto com que termina A Rapariga da Casa Isolada, chutando para fora do estádio o de Mia Goth, em Pearl. Só isso vale cada dentada do McChicken.

Título: The Little Girl Who Lives Down The Lane
Realizador: Nicolas Gessner
Ano: 1976

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *