| CRÍTICAS | The Loveless

Kathryn Bigelow passou uma carreira inteira a fazer filmes de homens e sobre homens até ganhar um Oscar, subir ao topo d indústria e deixar muita gente surpreendida por ser uma mulher com uma longa carreira de filmes de homens sobre homens. Ou seja, muita gente andou distraída e nem foi por falta de chamadas de atenção. Basta olhar logo para o primeiro filme da realizadora, mal saiu da escola de cinema, que por acaso até é o filme de estreia de um então muito jovem Willem Dafoe.

The Loveless é então um pequeno filme independente (pequeno na duração e no orçamento), que também é conhecido por Breakdown ou US 17, feito a quatro mãos por Kathryn Bigelow e Monty Montgomery, se bem que este último nunca mais viria a assinar nada na vida. The Loveless é um filme de motards, que presta naturalmente tributo a O Selvagem mas que tenta dar-lhe uns pozinhos de melodrama à Douglas Sirk. É um filme de silêncios, com uma respiração muito europeia, de quem acabou de sair da escola de cinema com uma dieta cheia de nouvelle vague, Antonioni e dramas nórdicos de Ingmar Bergman.

Willem Dafoe, todo de cabedal e numa Harley Davidson matulona ainda antes das custom made choppers de Easy Rider, é então (mais um) rebelde sem causa É ele o narrador do seu próprio filme e é ele que nos diz, logo no início, que acabou de sair da prisão. Dafoe vai fazer uma paragem num diner à beira da auto-estrada enquanto espera por uns colegas a caminho das corridas em Daytona, mas a avaria na mota de um deles vai obriga-los a demorarem-se no meio de nenhures um pouco mais do que o planeado.

The Loveless passa-se então durante 24 horas naquele lugar consumido pelo tempo, como uma breve suspensão na vida daquelas pessoas (e nas nossas também). Vai haver muito preconceito, alguma sedução e, com isso, conflitos vão surgir. E, consequentemente, isso vai revelar outras coisas mais sérias por trás. O destaque vai todo para Marin Kanter, a jovem que vai surgir num carrão oferecido pelo pai por arrependimento e que vai destapar uma situação perturbadora de incesto.

The Loveless é a típica primeira obra, onde os realizadores procuram experimentar várias ideias que trazem acumuladas. No entanto, conseguem faze-lo de forma coerente, mantendo o pulso firme. Não quer dizer que seja propriamente uma obra-prima, mas é um McChicken redondinho, com um Willem Dafoe fresquinho a apresentar-se ao mundo.

Título: The Loveless
Realizador: Kathryn Bigelow & Monty Montgomery
Ano: 1981

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *