| CRÍTICAS | Carrie 2

O que mais admira em Carrie 2 é o tempo que demorou até ser feito. Normalmente, quando um filme de terror é tão bem sucedido quanto foi Carrie, a capitalização da sequela costuma ser breve. Carrie 2 só foi feito em 1999 e até coisa que foi por acaso: depois de se aperceberem quão semelhante era a história que tinham acabado de escrever, os produtores de Carrie 2 decidiram aproveitar o emalo e torna-lo numa sequela oficial. Seja como for, Carrie 2 também acabou por ter uma existência breve, já que um par de meses após a estreia acontecia Columbine e o filme sairia precocemente das salas.

É certo que Carrie era um teen movie, mas em 1999 esse sub-género era bem diferente do que era em 1976. Por isso, Carrie 2 deve muito mais ao teen slasher, que então estava em voga – copiando abertamente Gritos, inclusive – e até à comédia juvenil pateta de hormonas aos saltos, que seria consagrada no mesmo ano com o primeiro American Pie. Aliás, até há aqui dois actores que depois estariam nesse também: Mena Suvari e Eddie Kaye “Finch” Thomas.

Em Carrie 2, a protagonista é a então debutante Emily Bergl, a quem a realizadora Katt Shea enfia pela goela abaixo uma relação de familiaridade com a personagem de Sissy Spacek. É como se não houvesse laços de sangue entre elas a sequela não fosse credível. Isso é também uma desconsideração pela personagem de Amy Irving, a única que aparece em ambos os filmes. E para quê então os flashbacks com Spacek, retirados ao filme original, que são tão aleatórios quanto desnecessários?

Enfim, Bergl é então uma jovem gótica, sem amigos no liceu sem ser Mina Suvari e que, por algum motivo, há de fazer publicidade gratuita aos Garbage(!). Bergl também tem a mãe louca, internada logo no prólogo do filme, que é também o melhor momento de Carrie 2. E claro, Bergl tem poderes telecinéticos, que sempre que se manifestam vêm acompanhados de lâminas a cortar o ar, só porque são um efeito sonoro fixe.

Depois é o habitual filme de liceu. Há um miúdo popular (Jason London) que se há de envolver com Bergl, numa metáfora mais do que estafada com o Romeu e Julieta que estudam nas aulas de Inglês, e há um esquema sexual de aproveitamento das miúdas levar a cabo pelos jockers da escola. E, no final, quando tramam Bergl, ela há de xingar com o poder e fúria, num último acto extremamente violento e sangrento. Após tudo isto, os dois pombinhos hão de viver felizes para sempre, mesmo que ela agora seja uma assassina em série, que matou a sangue frio dezenas de jovens. Estranha noção de romantismo a de Carrie 2.

E, já agora, que tatuagens de ramos são aquelas que surgem por todo o corpo de Emily Bergl no final, sem qualquer explicação? Só mais uma de várias decisões estranhas, inexplicáveis e de gosto duvidoso que Carrie 2 tem ao longo de todo o filme. Um dos Happy Meals mais desnecessários de todo o cinema de terror de sempre.

Título: The Rage – Carrie 2
Realizador: Katt Shea
Ano: 1999

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