| CRÍTICAS | Um Sedutor em Apuros

Um Sedutor em Apuros continua a ser um dos filmes menos lembrado e conhecido de Robin Williams. Logo na estreia, em 1990, o estúdio não soube como promover o filme, que tanto era uma comédia negra, como um drama, como ambos ao mesmo tempo e como nenhum dos dois de todo. Ao fim de poucas semanas em sala, foi retirado e atirado directamente para o straight-to-video, mantendo-se desde então numa espécie de limbo.

A verdade é que Um Sedutor em Apuros são (pelo menos) dois filmes num só. Aliás, são tão diferentes e tão colados com cuspo, que até parece que foi sendo escrito à medida que ia sendo filmado. E escrito em cima do joelho, no meio de uma noite de copos. De início, começa por ser uma comédia tipo as do Woody Allen dos anos 70, com um Robin Williams que é um vendedor de carros espertalhão e mulherengo, que é o narrador da sua própria história e que quebra constantemente a quarta parede para se dirigir directamente ao espectador.

Um Sedutor em Apuros lembra uma versão mais actual de um Alfie ou um Tom Jones, sobre um tipo sem mãos a medir para as mulheres da sua vida: a ex-mulher (Pamela Reed), a namorada (Lori Patty) meio pateta (aliás, todas as mulheres no filme são meio especiais, ou não fosse este um argumento meio misógino) e a amante (Fran Drescher ainda antes do irritante Competente e Descarada). Ainda há a boazona lá do escritório, Donna (Annabella Sciorra), que não é uma das suas conquistas, mas que irá ter um papel importante na trama do filme. Robin Williams passa os dias ocupados em gerir estas relações, o que torna ainda mais difícil a sua missão para não perder o emprego no stand de usados: ter de vender 12 automóveis num só dia.

O realizador Roger Donaldson vai então colocando as peças no tabuleiro estrategicamente e nós preparamo-nos para que aquela comédia meio ababalhada, onde todos falam muito alto e ao mesmo tempo, expluda num caos qualquer de situações divertidas e imprevistas. Isso acontece, mas não como estamos à espera. É que entra pela montra adentro do stand um jovem Tim Robbins, com uma arma numa mão e explosivos na outra, com uma crise de ciúmes pela esposa, Donna, acabando por fazer daquela gente toda, empregados e clientes, reféns.

Um Sedutor em Apuros deixa então de ser a tal comédia que era até então para se tornar numa outra. É de tal forma um filme diferente, que Robin Williams até deixa de ser o narrador e, já na última cena, quando volta a quebrar a quarta parede para concluir a história, é quando nos recordamos que ele costumava fazer aquilo no princípio. Também o tipo de humor muda, passando a ser mais subtil e inteligente, sempre com margem suficiente para a improvisação de Robin Williams. O que não só não termina, como é reforçado, são os gritos. As personagens falam cada vez mais alto e ao mesmo tempo, como se isso fosse um sinal de humor. Um Sedutor em Apuros quer ser o Um Dia de Cão, mas é apenas uma cópia baça e mal feita.

No final, Roger Donaldson consegue colar todas estas peças desconexas e piadas más e sem graças com aquela atmosfera feelgood que foi uma das imagens de marca do cinema dos anos 80, que de alguma forma permite a Um Sedutor em Apuros não ser um desastre total. Por momentos, até quase que nos convencemos que acabámos de ver uma comédia dramática com algum sentido e aceitam levar o Double Cheeseburger para casa, sem fazer perguntas

Título: Cadillac Man
Realizador: Roger Donaldson
Ano: 1990

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