| CRÍTICAS | Sorri 2

Sorri tinha uma premissa interessante, mas que nunca chegava a cumprir (e que, às tantas, até dava a impressão que desistia dela a meio). Só que como terminava em aberto, senti-me quase na obrigação de ver a sequela. Não sei se foi por ter perdido as expectativas todas no filme anterior ou se foi estratégia do realizador Parker Finn, mas a verdade é que Sorri 2 é um dos filmes do ano. Esqueçam A Substância. Este é o grande filme de terror sobre a aparência, a fama e a saúde mental de 2024.

Na verdade, Sorri 2 tem pouco a ver com o anterior e é quase um filme novo. É certo que havia uma porta deixada aberta por Sorri, mas Parker Finn trata de a fechar logo antes dos créditos iniciais. Numa longo plano sequência que chega a lembrar o de Os Filhos do Homem pela sua duração, acompanhamos Kyle Gallner a invadir a casa duns traficantes e a tentar passar a maldição para um deles. A coisa não corre propriamente bem e é particularmente violenta. Fade to black. Corte. Começa Sorri 2.

Mas espera aí, que maldição é essa?, perguntam vocês que não viram o filme anterior. É uma espécie de vírus, que é transmitido sempre que alguém testemunha outra pessoa a morrer, e que faz o hospedeiro começar a ver pessoal com um sorriso sinistro, que lhes enfiam pensamentos invasivos cada vez mais perturbadores na cabeça até perderem o controle por completo. No fundo, esse vírus é uma metáfora à saúde mental e, por isso, é que Sorri estava para o trauma e a depressão assim como Vai Seguir-te estava para as DST.

Sem querer dar grandes pormenores, a maldição vai chegar a Naomi Scott, a grande estrela pop que prepara o seu regresso aos palcos. Naomi Scott é uma espécie de Taylor Swift que acaba de passar pelo fundo do poço. Um período de consumo exagerado de drogas culminou com um acidente de carro, que tirou a vida ao seu namorado e deixou-lhe marcas no corpo. Agora, sob a tutela implacável da mãe, Scott tem que lutar conta a adição, as sequelas físicas e psicológicas do acidente e ainda responder às expectativas dos fãs e da imprensa, que salivam pela sua nova digressão.

Obviamente que nem era preciso maldição nenhuma para a vida de Naomi Scott ser um inferno. Sorri 2 é a jornada pessoal de luta dessa jovem contra todas essas pressões, dúvidas pessoais, controle emocional por parte da mãe e muita vontade de mandar aquela gente toda à fava e ir viver uma vida tranquila nos subúrbios, com um trabalho das 9 às 6. E Parker Finn fa-lo a partir essencialmente dos códigos do thriller psicológico, de quem esteve a ver o Repulsa em loop antes de começarem as filmagens.

No final, Sorri 2 volta a deixar a porta aberta a uma sequela, se bem que a promessa é agora de uma carnificina descomunal. Mas tendo em conta o que aconteceu na passagem do primeiro filme para este, já não digo nada nem faço previsões. Para já, gostei mesmo muito deste McRoyal Deluxe.

Título: Smile 2
Realizador: Parker Finn
Ano: 2024

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