
Em Capitão América – Admirável Mundo Novo chegámos aquele ponto em que temíamos: quem chegar hoje ao Universo Cinematográfico da Marvel (MCU) e quiser perceber o que se passa, terá que assistir a 7 filmes para trás, duas séries de televisão e jogar um jogo de computador qualquer. Uma prece para todos os jovens que estão a entrar na idade de começar a ver filmes… Para estarmos actualizados com os acontecimentos de Capitão América – Admirável Mundo Novo, é necessário termos visto a série do Falcão e o Soldado do Inverno, mais o filme dos Eternos (quem?) e, de preferência, ir ainda rever O Incrível Hulk (sim, esse mesmo, o do Edward Norton, de que já todos nos tínhamos esquecido que fazia parte do cânone).
De uma forma mais resumida, Capitão América – Admirável Mundo Novo é o primeiro sem Steve Rogers (ou seja, Chris Evans), depois de este ter envelhecido em Vingadores – Endgame. Agora, o título (e o escudo) pertencem a Sam Wilson (Anthony Mackie), o antigo Falcão, enquanto que o novo Falcão é (ainda em treino) Joaquin Torres (Danny Ramirez). De referir ainda que Thunderbolt Ross, o obcecado general que perseguia o Hulk no tal filme com Edward Norton, é o actual presidente dos Estados Unidos, estando a trabalhar no seu temperamento explosivo, enquanto procura liderar um processo de distribuição global justa e equitativa do adamantium, um novo elemento poderoso que surgiu numa ilha ao largo do Japão no final de Eternos (afinal, esse fiasco de bilheteira sempre serviu para alguma coisa). Ross é agora interpretado por Harrison Ford, que junta mais um franchise milionário a todos os outros em que já entra, substituindo William Hurt, no primeiro recast da Marvel por motivo de força maior. Também Liv Tyler está de volta, se bem que só aparece numa cena (o que não impede que tenha o nome nos créditos iniciais).
Uff… depois de uma sinopse destas, que já é a versão resumida, ficamos logo cansados para ver o filme. À medida que o MCU vai crescendo, a informação de cada novo filme vai sendo uma carga cada vez mais pesada, levando a que cada novo trabalho vá inflando como um balão, ocupando todo o espaço sem deixar margem para criatividade, originalidade ou um mínimo de rasgo. Se esses blockbusters já eram uma linha de montagem, agora tornaram-se em filmes automatizados, criados por simples justaposição da informação que é necessário abordar para gerar mais sequelas e spin-offs. Nem a AI faria melhor. Já há muito pouco cinema no MCU e, a continuar assim, o único resultado possível será a total implosão por cansaço do público (agora a sério, ainda alguém vê isto por gosto genuíno ou é só apena suma espécie de sentido de obrigação?).

Capitão América – Admirável Mundo Novo é então esse filme, que vem assinado por Julius Onah, mas que podia ter outro nome qualquer que não faria qualquer diferença. É um filme de super-heróis genérico, que procura arrumar por entre as cenas de acção a transbordar de efeitos-especiais digitais toda a informação pendente dos filmes anteriores. Onah ainda procurou referir, em entrevistas, que a sua inspiração foram os filmes políticos conspiratórios dos anos 70, o que até fazia sentido já que Capitão América – O Primeiro Vingador era um war movie e Capitão América – O Soldado do Inverno era um filme de espiões. Contudo, é difícil ver o que quer que seja por baixo de tanto cliché, lugar comum e masturbação digital.
Existem então duas ideias que procuram sobreviver no meio de uma história tão derivativa, estrebuchando pela vida. A primeira é a do novo Capitão América ser afro-americano, vestindo a bandeira de um país que historicamente maltratou (continua a) os seus antepassados. Contudo, da mesma forma que o filme se torna rapidamente no filme de super-heróis genérico 7.0, também o novo Capitão América é assimilado pelo sistema, limitando-se a prolongar toda aquelas ideias fantasiosas do império capitalista norte-americano que só existe no papel. A segunda ideia é a do presidente Ross, que é o verdadeiro vilão de Capitão América – Admirável Mundo Novo (sim, porque o Líder de Tim Blake Nelson, também reciclado do tal filme do Hulk, é completamente desprovido do que quer que seja), um tipo que procura uma segunda chance de redenção, que será personificada pela figura da filha (Liv Tyler) e das cerejeiras em flor(!), mas que não passa apenas de uma nota de rodapé.
Capitão América – Admirável Mundo Novo é assim um filme genérico, preguiçoso (como é que o Líder está em todo o lado em poucas horas?) e cheio de efeitos-digitais. Os filmes da Marvel são um balão que continua a encher sem sinal de abrandar, cujo único resultado possível será o rebentamento. E quanto maior, mais ruidoso será o estrondo. Agora tudo depende de onde quer assistir esse desastre. Para já, ele é o pior filme do Capitão América e um Happy Meal que, infelizmente, já não surpreende ninguém.

Título: Captain America – Brave New World
Realizador: Julius Onah
Ano: 2025