| CRÍTICAS | Queen of the Ring

Numa altura em que a indústria da luta-livre norte-americana parece atravessar uma crise de criatividade, não deixa de ser curioso verificar que o tema nunca teve tanta atenção em Hollywood. Talvez seja só porque a WWE atingiu a maioridade e já matéria suficiente para fazer filmes que não havia dantes, mas por entre documentários como Mr. McMahon ou biopics como Garra de Ferro, os fãs não se podem queixar.

Queen of the Ring é mais um filme biográfico sobre uma das pioneiras do wrestling feminino, Mildred Burke (aqui interpretada por Emily Bett Richards), que foi uma das primeiras lutadoras a profissionalizar a modalidade, a contribuir para criar uma indústria e a abrir a porta ao entretenimento de massas. Juntamente com o marido e sócio, Billy Wolfe (Josh Lucas), Mildred Burke, o Ciclone do Kansas, criou um clube de lutadoras numa altura em que o wrestling feminino ainda era proibido(!) em vários estados.

Se estão com a impressão de que já ouviram falar disto, provavelmente é porque foram Glow – Gorgeous Ladies of Wrestling, a série da Netflix que acompanha a criação de uma liga feminina de luta-livre. Queen of the Ring tem várias parecenças com a forma como Glow cria uma espécie de herói colectivo, que é um tipo de clube onde menino não entra, lutando contra todos os obstáculos criados pelo patriarcado. Mas, na verdade, Queen of the Ring tem parecenças com todos os biopics do género.

O argumento parece ter sido gerado por uma entidade de inteligência artificial, depois de ter analisado e regurgitado uma centenas de filmes biográficos, montando-o de cliché em cliché. Há muito material na história de Mildred Burke para pegar – a relação abusiva com o marido, o interesse romântico com o filho desse e a manipulação do mundo dos negócios -, mas o filme nunca se interessa pelas suas próprias personagens. O realizador Ash Avildsen, num anonimato mais ou menos funcional, limita-se a sequenciar os episódios por ordem cronológica, sem escapar sequer ao pecado capital do biopic: a predestinação para o sucesso do retratado, como que bafejado simplesmente pela graça divina para se tornar no melhor naquilo que amava.

Queen of the Ring podia ser uma história feminista inspiradora e ua interessante variação do underdog, mas com tudo isto limita-se a ser um Happy Meal apenas com interesse para os entusiastas da modalidade. Todos os outros mais vale limitarem-se a ver o Glow.

Título: Queen of the Ring
Realizador: Ash Avildsen
Ano: 2024

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