| CRÍTICAS | Mountainhead

Jesse Armstrong tirou um curso intensivo sobre os ricos e os seus problemas de primeiro mundo, depois de quatro temporadas de Succession. Por isso, para a sua estreia nas longas-metragens, o inglês sentiu-se habilitado para falar sobre os mega-ricos, aqueles acumuladores de riqueza que já ultrapassaram qualquer limite do razoável. Já não são apenas os 1 por cento; são uma pequena elite do mundo, adorados por uma falange de seguidores que aspiram a ser como eles.

Mountainhead é a história de quatro bilionários feitos na indústria das novas tecnologias, que se reúnem para um fim-de-semana de póquer à antiga, celebrando a sua longa amizade e as conquistas de cada um deles. Fazem-no na casa de Jason Schwartzman, o menos rico deles todos e que, por isso, tem a alcunha de Sopas, como em Sopa dos pobres. Estão a ver o tipo de humor desta gente? Também a mansão deste, um mamarracho isolado no topo de uma montanha, tem o muito apropriado nome de Mountainhead, como em The Fountainhead, o livro de Ayn Rand que é a bíblia do individualismo e o livro de cabeceira desta gente, começando logo por Donald Trump (como se ele alguma vez na vida tivesse lido um livro…).

Nada é por acaso no argumento de Jesse Armstrong, num filme que é quase um jeu de massacre, que faz lembrar Deus da Carnificina, de Polanski – quatro tipos fechados numa casa, durante um fim-de-semana. É um filme de diálogos, a maioria deles muito rápidos e cheios de um calão que, por vezes, o tornam difícil de seguir. São quatro irmãos de armas, muito amiguinhos, mas cuja masculinidade tóxica daquela mentalidade tech-bro rapidamente escala para coisas bem piores. Os amigos estão constantemente a medir as pilinhas e, se viram Chavalier, então sabem que isto vai piorar. O problema é que estes bilionários têm uma noção de ridículo ainda mais adormecida do que o resto das pessoas.

Por entre a ironia e o humor mais absurdo, Mountainhead desenrola-se como uma panela de pressão a aquecer, onde cada um dos bilionários tem o seu papel muito bem definido dentro desse jogo maior. Schwartzman, como já vimos, é o menos rico do grupo e, por isso, tem que lidar com as suas inseguranças, submetendo-se quase sempre às opiniões e às ordens dos outros; Steve Carell é o mais velho do grupo, que assume com prazer o papel de mentor, e que está a morrer de cancro; Cory Michael Smith é o imprudente dos quatro, que não olha a meios para atingir os fins; e Ramy Youssef é o mais sensato de todos, que ainda acredita que o que fazem pode ser norteado por um mínimo de valores. São papeis muito bem formatados logo à partida, que faz com que Mountainhead seja mais um exercício de estilo do que um filme a sério.

Faltou só dizer que, enquanto estes rapazinhos se vão desafiando ao longo do fim-de-semana, o mundo lá fora arde e desmorona-se, tudo por causa das suas aplicações e inteligências artificiais. É o cenário perfeito para esta imagem dos bilionários que se divertem, guardam remorsos uns dos outros e tentam lixarem-se mutuamente, sem olharem às causas. E, com isso, quem se lixa é o mexilhão. Tal como na vida real, só nos resta observar. Pelo menos até nos organizarmos, colectivizarmos e pormos essa malta toda para arder na fogueira. Até lá, vamos comendo os Double Cheeseburgers que eles nos dão como migalhas.

Título: Mountainhead
Realizador: Jesse Armstrong
Ano: 2025

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