
Os Beatles continuam a ser uma galinha de ovos de ouro, que toda a gente procura espremer mais um pouco. É o peso de ser a melhor banda de sempre (atenção, a melhor e não a maior). Veja-se a quantidade de filmes e documentários que há sobre os Fab Four: documentários sobre os seus álbuns, biopics sobre a infância de John Lennon, dramatizações sobre a vida pré-Beatles em Hamburgo e até documentários sobre a secretária(!) da banda (olá Good Ol’d Freda). Por isso, nem sequer nos admiramos com Midas Man e os Quatro de Liverpool, filme biográfico sobre aquele que ficou conhecido como o quinto Beatle.
Brian Epstein foi o manager que “descobriu” quatro jovens insolentes de Liverpool, que tocavam rock’n’roll nas horas, e os transformou na tal melhor banda do mundo, lançando as bases para a Beatlemania. Foi um empreendedor de sucesso, se bem que o resto das suas ideias nunca renderam o mesmo, e um aliado fiel dos Fab Four. Além disso, teve uma vida marcada pelo trauma, especialmente pela sua homossexualidade reprimida (num altura em que era ainda era criminalizada na Grã-Bretanha), tendo morrido precocemente com uma overdose.

Midas Man e os Quatro de Liverpool é um biopic muito certinho e respeitoso, que procura contar a história de Epstein sem deixar de fora nenhum dos episódios mais importantes da sua vida. Começa pela sua adolescência numa Londres ainda cinzenta, a despontar para o rock’n’roll que iria inaugurar os swinging sixties, com dificuldades em conciliar os seus sonhos de grandeza com as expectativas que o pai tinha para si; passa para a abertura da sua loja de discos após perceber que isso era mais interessante (e lucrativo) do que o negócio de família de mobiliário; e termina com os Beatles e a gestão de toda a sua carreira, numa indústria de concertos, discos e digressões, que é comum para nós actualmente, mas que na altura era toda uma novidade.
Midas Man e os Quatro de Liverpool não se furta aos momentos mais sensíveis da vida de Epstein, nomeadamente os encontros homossexuais às escondidas que levaram a algumas complicações e os comprimidos, mas também é verdade que fica tudo um pouco pela rama. Bem mais criativa é a forma como o realizador Joe Stephenson utiliza o narrador para quebrar a quarta parede e resolver alguns problemas dramáticos, assim como utilizar umas montages engenhosas para alguns saltos temporais, que fazem lembrar Experimenter.
O pior de Midas Man e os Quatro de Liverpool é mesmo o facto de não ter acesso ao catálogo dos Fab Four para a banda-sonora. Quão frustrante é um filme sobre os Beatles sem música dos Beatles… Há as versões e há quatro jovens meio desconhecidos a fazer de Beatles, que cumprem sem deslumbrar. Midas Man e os Quatro de Liverpool é um interessante Cheeseburger que serve para colocar no cânone beatleanesco, tanto para admiradores quanto curiosos.

Título: Midas Man
Realizador: Joe Stepehenson
Ano: 2024