| CRÍTICAS | Terra de Idiotas

Terra de Idiotas tem uma daquelas trivias que, mesmo sem ter qualquer valor cinematográfico, faz valer um filme. Provavelmente já a ouviu, já que prolifera regularmente pela internet. Durante a produção do filme – e tendo em conta o seu orçamento diminuto – alguém encontrou online uma startup de calçado tão feio que seria perfeito para ilustrar um mundo de idiotas e sem gosto. Essa marca aceitou calçar os actores de graça e, em poucos anos, tronar-se-ia numa das mais bem sucedidas marcas de sapatos em todo o mundo. Essa marca era… a Crocs.

Terra de Idiotas tem uma óptima premissa, ao imaginar um futuro hipotético onde a Humanidade evoluiu para níveis absurdos de preguiça, boçalidade e patetice. De tal forma que o futuro do ser humano está em risco, sem perspectivas de conseguir selecionar os nosso desafios que se colocam ao seu desenvolvimento. A esperança do Homem pode então estar em Luke Wilson e Maya Rudolph, que acordam de uma experiência governamental depois de 500 anos em criogenia. Ele é o tipo mais vulgar do seu tempo e ela uma simples prostituta apavorada pelo seu chulo, mas em 2500 são… as pessoas mais inteligentes do mundo.

Terra de Idiotas poderia ser um filme de uma ideia só, alimentado por sketchs situacionistas mais ou menos idiotas… e até o é. Mas temos que reconhecer que Mike Judge não é (apenas) um realizador desmiolado. O autor de coisas como Beavis e Butthead ou King of the Hill tem um olhar apurado e um dente afiado para fazer disto uma sátira inteligente e até pertinente. Além disso, num futuro de idiotas, em que os interesses se resumem a mamas e violência gratuita, Mike Judge tem que se comportar como o adulto na sala. Ou seja, não existe por exemplo humor escatológico porque é precisamente contra isso que o filme está a lutar.

Com um orçamento extremamente baixo, Terra de Idiotas contorna essas limitações para criar um mundo futurista e, simultaneamente, decrépito, através da velhinha técnica de pintar enormes cenários à mão. Isso, aliado a uma voz off muito séria e institucional, dá-lhe m certo ar de episódio de Twilight Zone, que lhe fica bem. E, mesmo sem ter nenhuma cena propriamente memorável, há Terry Crews a fazer do melhor presidente norte-americano de sempre. A diferença deste McBacon entre hoje, com Trump no poder, e 2006, quando estreou, é que antes era apenas ficção-científica pateta e hoje parece ser uma possibilidade altamente realista.

Título: Idiocracy
Realizador: Mike Judge
Ano: 2006

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