
Sem Saída desbloqueia um novo medo a todos aqueles que gostam de ir de férias: num país exótico que nunca é nomeado, mas que é o Camboja, Owen Wilson, a esposa Lake Bell e os dois filhos vêm-se no meio de um golpe popular, que derruba o governo, reprime a polícia e prometem morte a todos os turistas ocidentais. De repente, aquela família é despida de todos e quaisquer direitos, incluíndo o privilégio branco e o privilégio do eurocentrismo.
Há um subplot que explica a revolução popular – basicamente, o povo cansa-se da intromissão dos Estados Unidos na governança do país, sendo que a privatização da água é a gota que faz transbordar o copo (no pun intended) -, mas que não importa nada. O que é interessante em Sem Saída é o survivor movie, especialmente no primeiro momento em que a insurreição popular se levanta. Sitiados no hotel onde estão alojados, Owen Wilson e a família vão fugindo dos populares andar a andar, até ao telhado, numa economia de meios muito série b, que lhe fica bem.

Depois, há de entrar em cena um Pierce Brosnan que parece estar a divertir-se à grande, na pele de uma espécie de espião bon vivant, que tem uma costela de Rambo na forma como mata toda a gente à volta, mas que felizmente não dura muito tempo. É que o melhor de Sem Saída é mesmo a parte em que aquela família tem que se desenrascar da melhor forma que sabe, sem heroísmos de capa, apenas gente real a fazer pela vida.
E, de forma mais ou menos inesperada, Sem Saída ainda suja as mãos de sangue, ao colocar aqueles sobreviventes a ter que lidar com o maior dilema de todos: matar em auto-defesa ou ser morto. É uma faceta pouco comum num filme deste género, mas que confere fragilidade e humanidade a este (anti)herói colectivo, na sua busca pela sobrevivência, até à fronteira com o Vietname. Sem Saída é um sólido McChicken, o que é estranho perante o actual anonimato em que este filme está mergulhado.

Título: No Escape
Realizador: John Erick Dowdle
Ano: 2025