
Seria de esperar que, com o sucesso de A Guerra dos Tronos, houvesse um aumento de interesse pelos filmes de sword and sorcery. E, no entanto, isso não se verificou. Quem é que se tramou com isso? A Amazon, que gastou rios de dinheiro na série de O Senhor dos Anéis e ficou a arder.
Red Sonja chega agora em contra-ciclo, mas a verdade é que tudo nesta produção é um contra-ciclo. O filme começou a ser planeado para sair logo a seguir àquele remake do Conan com o Jason Mamoa, em 2011, mas depois do fiasco de bilheteira acabou por ser deixado na prateleira. Entretanto, tal como as pombinhas da Catrina, andou de mão em mão, tendo sido associado a nomes como Robert Rodriguez ou Bryan Singer, acabando nas mãos da tarefeira M. J. Bassett, que entretanto apanhara o comboio a meio da viagem.
Seja como for, eis finalmente Red Sonja, a primeira sequela desde o desastre de 1985, Kalidor, a Lenda do Talismã, com a Brigitte Nielsen. Tantos anos depois era mesmo necessário começar de novo e, por isso, este é um filme de origem. Interpretada por Matilda Lutz, que já fora action hero em Vendeta, Red Sonja é uma brava guerreira ruiva, que vive sozinha na floresta com o seu cavalo Vhour, em busca da sua tribo, da qual se separou ainda em criança, quando foram massacrados por um tirano cruel.

Este é um episódio com tanto de traumático quanto de fundador e que, por isso, há de reaparecer ao longo de todo o filme em regime de flashback. Entretanto, Red Sonja há de ser capturada por Draygan (Robert Sheehan), o novo mauzão do pedaço, que a leva para o seu grupo de gladiadores que servem para entreter o povinho. É precisamente antes de entrar na arena pela primeira vez que Red Sonja há de receber a sua armadura diminuta, que lhe dá a sua imagem de marca de bárbara hiper-sexualizada. “Mas isso protege alguma coisa?”, pergunta ao mestre de armas. “Nada” – responde-lhe -, “mas a multidão vai adorar”. Confesso que me ri.
Red Sonja é assim uma variação de Gladiador, mas com efeitos-especiais fajutos e sequelas de pancadaria editadas com os pés, num misto de falta de jeito e de procurar disfarçar as coreografias medíocres. Além disso, o filme passa o tempo todo a alimentar a rivalidade entre Red Sonja e Annisia (Wallis Day), a braço direito de Draygan, pra no final vir o cavalo e derruba-la, no momento mais anti-climax de 2025 até ao momento.
No final, Red Sonja, mais do que um filme de vingança, acaba por ser uma estranha alegoria para uma luta entre ciência e religião, em que a primeira está do lado de Draygan, que inventou uma fonte de energia e passou a dominar o mundo, enquanto a segunda está no lado de Red Sonja, que advoga o regresso à natureza, ao amor e aos deuses, demonizando o progresso. A mais terrífica invenção de Draygan são os yokes, um mecanismo que controla bestas selvagens. Será que a semelhança entre esse termo com woke (esse papão que serve para apelidar tudo o que não gostamos/percebemos/concordamos) é coincidência? É que essa metáfora é uma enorme salgalhada, que reflecte bem a confusão na cabeça de quem escreveu o filme. E o reflexo do próprio filme e do seu Happy Meal.

Título: Red Sonja
Realizador: M. J. Bassett
Ano: 2025