| CRÍTICAS | Elio

Espaço, a última fronteira. Depois da conquista da terra, do mar e do ar, o espaço é o derradeiro passo da Humanidade, exploradores por natureza. E a ficção-científica tem-nos dado vários vislumbres de como poderá ser esse território por desbravar, enquanto uma questão continua a assaltar-nos o espírito: será que estamos sozinhos no universo?

É o espaço o tema de Elio, a nova produção da Pixar que tem assim um apelo universal. Elio (voz de Yonas Kibreab) é um rapazinho que, depois da morte dos pais, foi adoptado pela tia (voz de Zoe Saldaña). O trauma e algumas dificuldades de relacionamento com Zoe Saldaña fazem-no sentir deslocado, com dificuldades de sociabilização na escola. Até que um dia tem um encontro directo com o Voyager Golden Record, o disco que a NASA enviou para o espaço com uma saudação do povo da Terra para possíveis receptores de outras galáxias. Hello from the children of planet Earth – ouve-se várias vezes ao longo do filme essa frase dita pelo filho de Carl Sagan (o próprio também se ouve inúmeras vezes), como uma importante âncora que nos ajudam a situar.

Elio desenvolve então uma estranha obsessão de tentar contactar algum povo extraterrestre, que o possam abduzir e levar para algum sítio onde se sinta em casa. E, plot twist, vai consegui-lo. O problema é que o confundem com o líder da Terra e, para não quebrar o disfarce e arriscar ser enviado de volta para casa, Elio vai prolongar a mentira, o que inclui ter que impedir que um tirano com queda para a guerra, Lord Grigon (Brad Garrett), conquiste o Communiverso.

Tal como Wall-E (ou Lightyear), Elio é um filme de ficção-científica, mas em que o cerne da questão está na sua capacidade de maravilhamento. Ou seja, existem seres de outro mundo e viagens espaciais, mas o que importa aqui é o factor uau, aquilo que Steven Spielberg sempre fez como ninguém em ET – O Extraterrestre ou Encontros Imediatos de Terceiro Grau. Por isso, quando Elio salta da Terra para o Communiverso, não deixa de ser um pouco desapontaste que este mundo novo criado de raiz seja mais do domínio do realismo mágico do que da ficção-científica mais tecnológica. Até porque estamos a falar de uma história “apadrinhada” pelo espírito de Carl Sagan.

No entanto – e, aliás, como era expectável – Elio sabe com quantos paus se constrói essa canoa e brinca com os códigos de género, incluindo referências directas a coisas como Exterminador Implacável 2 ou Alien – O Oitavo Passageiro, para construir mais um filme sobre a família. Aliás, é um coming of age acerca das dificuldades de responder às expectativas familiares, o que lhe dá obviamente esse alcance universal. Como é habitual na Pixar, Elio volta a ser impecável na animação, levando este Mcchicken até aos confins do espaço, desafiando essa última fronteira.

Título: Elio
Realizador: Adrian Molina, Madeline Sharafian & Domee Shi
Ano: 2025

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