
Eu nem sequer acredito em tretas paranormais, mas a primeira coisa que faria caso me convidassem para fazer um filme do Quarteto Fantástico seria ir à bruxa. É que os três filmes e meio que existem do popular grupo de heróis da Marvel são tão, mas tão maus que não pode ser apenas falta de jeito. Tem que ser algo mais, tipo mau-olhado ou assim.
Entretanto, a Marvel comprou os direitos do Quarteto Fantástico à 21th Century Fox e eis Primeiros Passos, o primeiro filme do Senhor Fantástico, da Mulher Invisível, do Tocha Humana e do Coisa a fazer parte oficialmente do Universo Cinematográfico da Marvel. Há um casting de nomes mais ou menos populares, liderados pelo omnipresente Pedro Pascal, e – surpresa! – afinal não é um filme de origem. Na verdade, já todos sabemos como é que os quatro ganharam os seus poderes, não já? Quatro cientistas que vão ao espaço, sã bombardeados por raios cósmicos, os escudos da nave não estão preparados para absorver a radiação e, quando chegam à Terra, descobrem que se podem esticar, ficar invisíveis, transformarem-se em fogo e ter muita força.
Na verdade, o realizador Matt Shakman até despacha isso logo no início de forma muito sucinta, em formato de reportagem televisiva condensada. Mas os trunfos de Primeiros Passos estão todos no aspecto e na forma do filme. É que Shakman ambienta este Quarteto Fantástico numa outra realidade que não a Terra 616 (as vantagens do multiverso), onde é tudo muito pós-modernista, com um aspecto retro que faz lembrar os Jetsons, os desenhos-animados do Super-Homem dos estúdios Fleischer e aquele filme esquecido que está na altura de ser recuperados que é o Sky Captain e o Mundo de Amanhã. Tudo isso faz ainda mais sentido quando nos apercebemos que Matt Shakman foi o realizador de WandaVision, onde fazia também esse exercício de estilo de se assemelhar a outra coisa.

Este é então um novo Quarteto Fantástico, onde há um grande evento que vai determinar tudo o resto que vai acontecer no filme: Sue Storm (Vanessa Kirby), a Mulher Invisível, está grávida. A parentalidade vai levantar a habitual série de dúvidas que se colocam aos pais pela primeira vez, mesmo quando são super-heróis, com o extra de que aqui ninguém sabe ao certo se a criança vai vir ao mundo com poderes ou não. Entretanto, surge em cena a Surfista Prateada (Julia Garner), que, qual O Dia em que a Terra Parou, vem anunciar que o seu mestre, Galactus, vem destruir a Terra. O Quarteto Fantástico entra em cena e viaja através do espaço para negociar com esse gigante, que lhes oferece um acordo: poupará a Terra em troca do filho por vir do casal, que obviamente recusa. Quem não vai gostar de ouvir isso são os terráqueos, que rapidamente os acusam de egoísmo.
Tudo isto é ok, mas o facto deste Quarteto Fantástico relembrar a fase de ouro dos quadradinhos da Marvel não quer dizer que tivesse que ser tão naive. O argumento é realmente ingénuo e há momentos que são difíceis de engolir, até mesmo com muita água. O exemplo maior é o de Sue Storm, gravidazorra e de barrigona, que vai atravessar o espaço(!) para ir enfrentar Galactus(!!). Claro que isso vai permitir dar-nos uma cena de parto no espaço, mas quem é que consegue acreditar nisso? E depois há o plano inicial de Reed Richards (Pedro Pascal), em construir uma máquina para transportar o planeta para outro local(!!!). A sério?
Seja como for, os filmes de super-heróis nunca foram particularmente para se ver com o cérebro ligado. Primeiros Passos procura o escapismo dos filmes de aventuras e, a verdade, é que o consegue em vários momentos. Por isso, o Cheeseburger não ofende e vai praticamente todo para o aspecto visual do filme e desse mundo novo criado por Matt Shakman.

Título: The Fantastic Four – First Steps
Realizador: Matt Shakman
Ano: 2025