| CRÍTICAS | Encontros Imediatos do 3º Grau

Em apenas três filmes, Steven Spielberg revolucionou a indústria do cinema e tornou-se no rei do entretenimento. Encontros Imediatos de 3º Grau foi o segundo desses três blockbusters (na altura ainda não se sabia que eram blockbusters), onde encontramos várias características da sua obra: as crianças, não necessariamente como protagonistas, mas com uma visão sem filtros e condicionada para com a realidade; os núcleos familiares ameaçados como factor de instabilidade emocional (a sua costela capriana); e a ficção-cientifica como matéria para reflectir sobre a realidade, nas mesmas proporções exactas entre diversão e espectáculo e seriedade e realismo.

Tal como ET – O Extraterrestre, Encontros Imediatos de 3º Grau é um filme sobre alienígenas amigáveis que nos visitam. E Richard Dreyfuss é um dos vários americanos que, após o avistamento, ficam obcecados com aquilo que viram e não conseguem explicar, tendo que enfrentar o cepticismo e a desobediência da comunidade. E, mais importante ainda, da sua própria família.

A família é sempre o nervo central dos filmes de Spielberg e é quando essas relações são ameaçadas que as suas hsitórias realmente começam. E as ameaças podem ser desde extraterrestres malvados (olá Guerra dos Mundos) a tubarões brancos (olá O Tubarão). É precisamente em O Tubarão que encontramos o melhor desses momentos, com Roy Scheider e o seu filho mais novo sentados à mesa de jantar, com o puto a imitar-lhe os gestos e as expressões corporais. Mas Encontros Imediatos de 3º Grau não lhe fica nada atrás, com Dreyfuss na banheira, vestido, a quebrar emocionalmente, e a sua mulher e filhos a irromperem em drama e choradeira.

Ao contrário de O Tubarão, aqui já vemos mais vezes a “ameaça” do filme. Aliás, são uns seres de borracha desfocados que aparecem mesmo no final. Mas é quando Spielberg se diverte com a sugestão que eles são mais interessantes, seja numa aparente estrela cadente que risca o céu estrelado, seja nas sombras ameaçadoras dos discos voadores projectadas no solo. Não é que Encontros Imediatos de 3º Grau seja um filme de monstros, mas também tem uma theme song para as suas “criaturas”: uma composição de cinco notas de John Williams, que, quais cães de Pavlov, iremos sempre associar à vida extraterrestre.

Encontros Imediatos de 3º Grau é um dos filmes que fez de Spielberg o que Spielberg é hoje: um génio da Sétima Arte que encontrou o ponto caramelo entre o cinema de autor e o cinema de entretenimento. E aqui, a presença de François Truffaut, no seu único trabalho de actor fora de um filme realizado por si próprio, não podia ser mais simbólico. Não envelheceu um niquinho e, por isso, as palavras de Neil deGrasse Tyson continuam actuais: o melhor filme de ficção-científica de sempre. Aqui não o superlativamos tanto , mas damos-lhe um Le Big Mac sem qualquer problema.Título: Close Encounters of the Third Kind
Realizador: Steven Spielberg
Ano: 1977

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