| CRÍTICAS | Cyborg

Para quem cresceu no final dos anos 80, a Canon foi um parceiro fundamental na adolescência. Não importava quem fossemos- o puto popular da escola ou aquele que levava porrada de toda a gente -, que a Canon não só não nos julgava como ainda nos compreendia. Por isso, quem cresceu no final dos anos 80, a Canon foi um amigo, um confidente e um professor.

Por isso, 1989 foi um ano triste. Para todos os cinéfilos em geral,mas para quem cresceu nos eighties em particular. Porque foi esse o ano em que a Canon decretou falência e encerrou portas. E Cyborg foi o seu último filme a ter distribuição comercial. Logo por aí, seria sempre um filme especial, mas é-o duplamente porque foi feito com os restos da sequela de Masters do Universo e de um Homem-Aranha , cujas produções foram abortadas devido à bancarrota.

Surgiu então em cena o realizador Albert Pyun – uma autêntica enciclopédia do cinema xunga -, um então desconhecido Jean-Claude Van Damme e um argumento para reciclar esses decors e figurinos com um orçamento mínimo. Nascia então Cyborg, filme de culto e título especial na filmografia de Van Damme.

Por tudo isso – e porque Pyun queria que Cyborg fosse uma ópera a preto e branco, sem diálogos(!!) -, o filme é uma aventura pós-apocalíptica minimalista, quase sem falas, planos de perspectivas arrojadas e inesperadas e muito slo-mo. E como todos os filmes apocalípticos, as influências são inevitáveis: Mad Max – As Motos da Morte e Um Rapaz e o seu Cão. E isso é realmente bom – boas roupas, bons cenários… -, o que nos faz pensar que este segundo He-Man poderia mesmo ter sido giro.

Contudo, por cada coisa boa que Cyborg tem, há logo outra a seguir para o enterrar. Por exemplo, por cada um dos planos mirabolantes de Albert Pyun – entre o expressionismo alemão e a nouvelle vague -, há a irritante teimosia em editar as cenas de acçãocom cada soco duas vezes. E em cada vez que o vilão (Vincent Klyn) nos faz arrepiar os pêlos da nuca com os seus olhos vítreos, Van Damme dá-nos a sua cara de quem está obstinado. E que é tanto a sua cara contemplativa quanto de sofrimento.

O argumento de Cyborg também sofre dessa esquizofrenia. Começa por ser um filme pós-apocalíptico, onde uma doença dizimou a população (mas que nunca chegamos a saber que peste é essa), mas rapidamente se torna num filme de vingança. Há uma ciborgue (Dayle Haddon) que tem informações fundamentais para encontrar a cura para essa epidemia, mas rapidamente desaparece de cena porque surge Debora Richter, mais gira e sem problemas em mostrar as mamas.

Cyborg vive portanto nesse limbo: tanto nos dá algo de que gostamos imenso, como logo a seguir nos faz a desfeita e faz-nos querer bater-lhe. No entanto, o crédito sai claramente positivo por dois momentos muito queridos de qualquer amante de cinema xunga. Falo do momento em que Van Damme é crucificado no mastro de um navio encalhado em sexo; e de quando Van Damme e a família são atados em arame farpado, pendurados num poço ea mais nova encarregue de os segurar. E assim se faz a anatomia de um McChicken.Título: Cyborg
Realizador: Albert Pyun
Ano: 1989

4 thoughts on “| CRÍTICAS | Cyborg

  1. Se perguntares a um guineense qual é o melhor filme de van damme, não há outra resposta: Vandan-Fender (como é conhecido lá este filme), que é só rivalizável com Vandam-Alex.

    Funny cart: na Guiné os filmes de Vandan, Rambo, Conan e Vandrago (ou Vandrácula) tinham todos (e provavelmente ainda têm) títulos particulares. Aqui, alguns títulos:

    Conan Espada (o demolidor)
    Rambo Cobra (cobra, o braço…)
    Rambo Vandrago (Rocky IV)
    Vandan Vandrago (Máquinas de Guerra)
    Conan Monstro (Predador)
    Vandan Câmara Lenta (ou Vandan Cabeludo)
    Vandan Sandman (Implacável)
    Conan Corpo de Ferro (Exterminador I)
    Conan Alumínio (Exterminador II)
    Vandan Alex (Duplo Impacto) – depois deste muitos pensavam que van damme tinha realmente um irmão, e nos próximos filmes as pessoas discutiam se aquela era realmente vandan ou se era alex).
    Conan Comando (Comando)
    Conan Contentor (Eraser)
    Vandan Motoqueiro (Sem Escape…)

    enfim…

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