A abertura de Implacável é toda ela um tratado de cinema xunga, em modo super-condensado. Mal o filme começa e ouvimos Van Damme, na pele de um polícia, a desrespeitar ordens directas para esperar por reforços e ir invadir uma casa toda grafitada para capturar o tipo que matou o seu colega (no fundo, a premissa de todos os filmes do belga: alguém mata um familiar/amigo/colega e ele vai vingar-se). Depois, lá dentro é um ruína completa, mas por qualquer motivo está lá a viver o terrível Sandman (Patrick Kilpatrick), que, apesar de levar quatro balázios em cheio, sabemos logo que ele irá reaparecer mais tarde, de forma completamente inesperada na história, para o duelo final.
Posto esta introdução manhosa, arranca então verdadeiramente o filme. Van Damme é “convidado” a infiltrar-se numa prisão para descobrir quem anda a matar os reclusos com um picador de gelo, de forma incógnita, porque como toda a gente sabe essa é a forma mais segura de desvendar esse tipo de casos.
Implacável é, portanto, um prison movie de série b – subgénero muito em voga nos anos 80 (lembra-se de Stallone Prisioneiro?), mas que entretanto caiu em desuso -, com uma premissa interessante (um mercado alternativo de tráfico de órgãos no interior da prisão), mas que é rapidamente chutada para canto em detrimento de outras prioridades. Nomeadamente a capacidade de Van Damme resolver todos os problemas com rotativos pela cara. Se bem que este é, possivelmente, o seu filme menos egocêntrico, que tirando a luta final (fracota, por sinal) e meia-dúzia de momentos em que exibe os músculos, nunca pára para se exibir.
Implacável tira então proveito do microcosmos que cria, numa prisão dividida quase que em níveis de jogo de computador, tão irrealista quando fácil de entreter. E, pelo meio, Van Damme ainda arranja tempo para comer a jovem inspectora que o anda a ajudar sob disfarce, numa visita conjugal. Um dos McChickens do tempo que em Jean-Claude Van Damme era um dos action heroes que valia realmente a pena seguir.Título: Death Warrant
Realizador: Deran Sarafian
Ano: 1990