O conflito entre vizinhos é um dispositivo narrativo clássico, que tem sido explorado desde os contos do Tchekhov até aquela curta magistral do Norman McLaren, intitulada precisamente Neighhbours. Até os Rolling Stones cantaram sobre o tema. Por isso, A Árvore da Discórdia não vem propriamente inventar a roda. Mas vem dar-nos a sua variação muito nórdica dessa temática.
Estamos então nos subúrbios de Reiquiavique e, como se sabe, os subúrbios são o território perfeito da classe média urbana, mesmo numa cidade super-rica como a capital islandesa. Duas casas iguais, com a sua cerca branca e um pedaço de terreno atrás, que podia muito bem simbolizar o sonho norte-americano. De um lado, Konrad (Þorsteinn Bachmann) e a sua jovem (e bronzeada) mulher Eybjorg (Selma Björnsdóttir); e do outro Baldvin (Sigurður Sigurjónsson) e Inga (Edda Björgvinsdóttir), mais o filho recém-separado, Atli (Steinþór Hróar Steinþórsson). E a semear a discórdia uma árvore com uma copa generosa, no quintal destes últimos, que provoca uma sombra incómoda no quinta dos primeiros.
Claro que a sombra da árvore é mais metafórica do que literal. Ela simboliza igualmente a negritude que continua a pairar sobre Inga, que não consegue ultrapassar o suicídio do seu mais velho, a traição de Atli à sua mulher que faz com que ela agora não o deixe visitar a filha ou algum ressentimento de Badvin perante a mulher, que já não cuida de si como a muher-troféu do vizinho.
Com um estilo muito ponderado e tranquilo, o realizador Hafsteinn Gunnar Sigurðsson vai acompanhando o dia-a-dia destas duas famílias, mas especialmente da dos donos da árvore, quase sem se dar conta que, ao mesmo tempo, rebenta uma guerra entre vizinhos, que vai escalar até proporções imprevisíveis. O que também ninguém adivinharia ao início é que A Árvore da Discórdia terminasse com um momento slapstick, reduzindo tudo aquilo que construiu ao longo do filme a um simples momento de comédia. Para isso, tinham feito um curta. Mas o McBacon não lhe fica mal.
Título: Undir Trénu
Realizador: Hafsteinn Gunnar Sigurðsson
Ano: 2017