Costuma-se dizer que, perante uma situação de quase morte, a vida passa-nos em frente aos olhos. Normalmente é isso que acontece na maioria dos survivor movies, principalmente naqueles em que o protagonista fica sozinho em situações extremas (olá 127 Horas), com o recurso a flashbacks. Mas em Solo o que acontece é o oposto: é o acidente que passa pela mente de Álvaro, à medida que ele reavalia a sua vida no pós-trauma.
Esse é o melhor trunfo de Solo, o filme baseado no caso verídico de Álvaro Vizcaíno, um surfista solitário que passou 48 horas a lutar pela vida até ser resgatado a alguns quilómetros da costa, depois de ter caído de uma ravina na ilha canária de Fuerteventura. Saltando entre prolepses e analepses, nem sempre é claro qual a linha narrativa actual de Solo, o que o afasta da estrutura convencional deste tipo de survival movies. E mesmo o que é real ou o que é um delírio causado pela falta de água e comida (e pela queda e fracturas) é sempre pouco claro.
No entanto, Solo tem também várias coisas contra si. Começa logo pelo casting, já que Alain Hernández tem poucos recursos para aguentar um filme em que está a maior parte do tempo no ecrã (e quase sem falas). E depois o realizador Hugo Stuven parece estar sempre mais preocupado em tirar uns planos bonitos de Fuerteventura, para um vídeo turístico, do que em realizar um filme, sempre cheio de filtros (que irritação tanto filtro!), o que até é curioso tendo em conta a forma como Solo tenta contornar a estrutura previsível do herói encurralado.
Nos últimos anos, temos visto este tipo de filmes várias vezes, com resultados bem díspares. 127 Horas, mencionado acima, não é algo que queiramos ver novamente, mas Enterrado ou Quando Tudo Está Perdido, por exemplo, é bem supimpa. Solo merece futuramente um lugar nesta lista pela forma pouco convencional que é montado, logo depois de Águas Perigosas. É daí que vem toda a simpatia do Cheeseburger.
Título: Solo
Realizador: Hugo Stuven
Ano: 2018