A premissa de Lucy in the Sky é, toda ela, um programa de intenções bem interessante: uma astronauta (Natalie Portman) que, ao observar a Terra do espaço, ganha consciência da pequenez e insignificância do ser humano, tornando-se difícil aceitar a rotina do dia-a-dia. Essa premissa serve de base para explorar o caso verídico de um triângulo amoroso entre astronautas da NASA que, em 2007, levou à primeira prisão de sempre de… um astronauta.
O problema de Lucy in the Sky começa logo por aí: a premissa e a história que pretende contar parece serem coisas diferentes. A primeira metade do filme – que é a melhor – vai explorando a forma como Natalie Portman, de regresso à Terra, sente dificuldade em voltar a conectar-se com a realidade. Depois, começa um caso amoroso com o colega Jon Hamm e, de repente, estamos dentro de um thriller passional, com Portman a não aceitar o facto de Hamm ser um mulherengo e a perder a cabeça. São dois filmes que, além de não se misturarem, nem sequer parecem pertencer à mesma ordem de ideias.
Talvez isso aconteça porque o realizador Noah Hawley – que se estreia no grande ecrã, depois dos elogios de Legion na televisão – parece estar mais preocupado com o seu virtuosismo técnico. Não gostaram da masturbação egocêntrica de 1917? Então experimentem ver Lucy in the Sky, em que o formato da imagem está sempre a alterar, passando do 4:4 para o 16:9 (parando por vários formatos intermédios) sem qualquer justificação plausível. Como se isso não bastasse, a partir de meio também isso para [encolher de ombros].
Lucy in the Sky (que ainda mete a martelo uma versão da música dos Beatles só para rimar com o título) passou pelos festivais sem deixar mossa, pouco impressionou a crítica e nem sequer tem estreia prevista para Portugal. O que, para um filme estrelando Natalie Portman, tem muito que se lhe diga. O Cheeseburger é, por isso, uma desilusão e o melhor que vai tirar daqui.
Título: Lucy in the Sky
Realizador: Noah Hawley
Ano: 2019