Olhamos para A Mulher Mais Odiada da América e é impossível não sermos levados ao engano. Um filme Netflix com um título destes só pode ser uma coisa: mais um dos documentários criminais do serviço de streaming. Só que não.
A Mulher Mais Odiada da América é o biopic Madalyn Murray O’Hair (Melissa Leo), fundadora da associação de ateístas americanos e ferrenha (e provocadora) activista pela separação de poderes entre o Estado e a igreja. Está-se logo a ver donde vem o epíteto, que Madalyn ostentava com orgulho. Ainda para mais estamos a falar dos anos 60, quando a ala conservadora republicana era bem forte (mas que raio estou eu aqui a dizer? até parece que hoje em dia é diferente).
No entanto, estamos a falar dos Estados Unidos, país onde as coisas nunca são o que parecem ou são muito mais do que aparentam ser. Por isso, apesar de Madalyn Murray O’Hair ter sempre clamado por integridade, A Mulher Mais Odiada da América vai envolver offshores, contabilidade criativa e algumas motivações mais obscuras. Sem querer fazer spoilers, basta dizer que este começa com a activista e a família a serem raptados por um grupo de bandidos, que querem fazer chantagem.
E por falar em família, A Mulher Mais Odiada da América é um biopic completo, não só sobre a obra, mas também sobre a vida de Madalyn. E, tendo em conta a família disfuncional da activista – manipuladora e super-protectora, que inclui um filho que não lhe falava, uma neta sob a qual tinha a custódia e um outro filho meio… especial -, esta é também uma fatia importante em A Mulher Mais Odiada da América.
O realizador Tommy O’Haver monta todas estas camadas como um bolo, de forma muito competente, numa estrutura narrativa não-linear que salta de analepse em prolepse, demorando-se em cada uma apenas o tempo estritamente necessário. Ou seja, o suficiente para servir um McChicken sólido e consistente. A Mulher Mais Odiada da América é afinal um filme criminal do Netflix; só não é o que estávamos a contar ao início.
Título: The Most Hated Woman in America
Realizador: Tommy O’Haver
Ano: 2017