Imaginem que vivam em Paris, com um artista da alta roda francesa, e que teriam que voltar abruptamente para viver na casa dos pais, num monte no norte de Portugal, donde saíram há uma década quando tinham 10 anos. Agora imaginem que a razão de terem saído de Portugal para França é porque haviam sido raptados por um pedófilo e que agora estão de regresso ao convívio com a mãe, que não vêem há 10 anos, assim de chofre.
Patrick, a estreia de Gonçalo Waddington na cadeira de realizador e vagamente inspirado no caso do Rui Pedro, que continua a fazer parte da curiosidade mórbida nacional, é o filme que responde a essas questões. Patrick/Mário (Hugo Fernandes) é esse rapaz, que depois de ter sido descoberto pela polícia com imagens de pedofilia no computador, é entregue à mãe, em Portugal, donde havia sido levado há uma década. Com ele leva toda uma bagagem emocional pesadíssima, que nem ele nem a mãe conseguem pegar.
Patrick leva consigo um misto de trauma, culpa recalcada e angústia juvenil, tudo temas sensíveis, com que Gonçalo Waddington nem sempre sabe como tratar. Do ponto de vista formal, fa-lo de forma superior: com uma frieza nórdica, de quem já tinha o distanciamento social nos genes ainda antes de estar na moda, e um formalismo que sabe sempre o que fazer com a mise en scene (e algum cinismo austríaco, especialmente no final… “cruel”). No entanto, do ponto de vista do conteúdo, a porca já torce um pouco o rabo.
Waddington decide ir fechando umas portas à medida que o filme vai avançando, mas o problema é que ele acaba por ficar do próprio lado de fora. Por vezes, sentimo-nos tão perdidos quando a própria personagem de Patrick/Mário. E se Patrick é um filme que não nos entrega nenhuma resposta, o facto é que também raramente faz as perguntas que deveria fazer.
Patrick é uma estreia muito promissora de Gonçalo Waddington por trás das câmaras (e com um breve cameo, à la Hitchcock), com ideias fortes e uma marca de autor bastante interessante (e pouco comum no cinema nacional). Depois falha na exploração da história e dos seus conflitos, mas é um falhanço mais interessante do que grande parte dos “sucessos” que estreiam por aí ao pontapé. O Double Cheeseburger é para manter debaixo de olho.
Título: Patrick
Realizador: Gonçalo Waddington
Ano: 2019