| CRÍTICAS | Psychokinesis

Parasitas veio revelar a todos o elefante na sala que o mundo se parecia recusar a ver: a estrutura social continua a ser bem vertical e a luta de classes não só se mantém, como parece ser cada vez mais acentuada pelas clivagens criadas pelo capitalismo. E, no entanto, o cinema sul-coreano já nos andava a tentar dizer isso a tanto tempo.

Exemplo: Psychokinesis, filme de 2018 com o carimbo Netflix, que foi o tão aguardado “filme seguinte” de Sang-ho Yeon após o sucesso de Train to Busan. Se esse tinha sacudido os alicerces do zombie movie, Psychokinesis trouxe outro selo importante: o primeiro filme de super-heróis sul-coreano. Se bem que estes não são super-heróis todo-poderosos, na perspectiva nietzschiana, mas antes de um ponto de vista mais terreno, do homem comum que é presenteado com poderes, como um Defendor – O Vigilante ou um Crónica.

Como bom filme sul-coreano que é, Psychokinesis não se fica por um género e mistura tudo na centrifugadora que é a criatividade de Sang-Ho Yeon. Ou seja, é um filme de super-heróis, para reflectir sobre a diferença de classes, feito com muito humor físico e declinações na comédia.

Seok-heon (Seung-ryong Ryu) é então um tipo comum, que podia muito bem perceber à família do Parasitas, que certo dia bebe água de uma fonte contaminada por um misterioso asteróide caído do céu e que ganha poderes de telecinesia. A sua primeira reacção é de procurar uma saída para o seu insucesso pessoal e ajudar ao mesmo tempo a filha Roo-mi (Eun-kyung Shim), que abandonou por causa de uma crise económica, mas rapidamente irá colocar os poderes ao dispor dos colegas de Roo-mi, que lutam contra um terrível esquema imobiliário que os quer obrigar a abandonarem o mercado onde trabalham.

Não sei como é o sistema policial e judicial na Coreia do Sul, mas espero que não seja nada como é representado em Psychokinesis, porque não parece nada credível. Os magnatas contratam agiotas para agredir as pessoas, matam umas quantas pelo caminho e a polícia fecha os olhos, porque eles são uns zé-ninguéns. Mesmo assim, Yu-mi Jung é uma vilã perturbadora na pele da investidora que não olha a meios para alcançar os seus fins.

Psychokinesis é um filme na esteira de Parasitas, mas que não consegue reproduzir da mesma forma as suas boas intenções. É mais esquemático e mais caricatural, perdendo-se sobretudo nos símbolos de género do filme de super-heróis. O que não o impede de ter umas boas sequências de acção e um Double Cheeseburger para roer no final.

Título: Yeom-lyeok
Realizador: Sang-ho Yeon
Ano: 2018

3 thoughts on “| CRÍTICAS | Psychokinesis

  1. Luta de classes a sério…em 2020? Depois da URSS até à RDA passando por Angola, Cuba ou Cambodja pensava que a tese de Karl Marx que apontava que a luta de classes fosse o motor da historia fosse apenas um objecto de estudo ou alento para saudosistas.
    O filme Parasitas é espectacular e é necessario melhorar o capitalismo para o tornar mais inclusivo mas pensar que existe uma alternativa real é alimentar utopias que terminam em “Venezuelas”. Parabéns pelo site, para mim um dos melhores sobre cinema.

  2. Luta de classes… em2020? Karl Marx ao dizer que a luta de classes era o motor da historia estava errado na minha opinião e o século XX (desde a URSS até Cuba, da RDA até ao Cambodja) é a prova disso e se duvidas houvesse ano século XXI a Venuzuela tirou as duvidas.
    Parece-me que na Historia o Homem procura abundância material e liberdade politica e a Luta de classes -marxismo -culmina na falta de ambas. Politica â parte: parabéns pelo site, um dos meus favoritos. Felicidades!!

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