Toda a gente adora um bom cientista caseiro. Aqueles que queimam as pestanas a tentar inventar as coisas mais inconsequentes do mundo, fechados na garagem lá de casa. O Professor Pardal é uma das mais queridas personagens da Disney e o Professor Ludovico é uma espécie de spin-off. O terceiro melhor cientista louco da Disney é, no entanto, de carne e osso. Tem um laboratório no sótão da casa e inventa coisas tão parvas como um chapéu que é um sistema sem mãos para o telefone, quanto coisas tão revolucionárias quanto um raio para encolher. O cientista é Wayne Szalinski, ou seja, Rick Moranis, no clássico Querida, Eu Encolhi os Miúdos.
Szalisnki é o pai de uma típica família norte-americana dos anos 80, a viver o boom da prosperidade económica alicerçado no consumismo liberal. Apesar de ser um inventor a que ninguém presta muita atenção, Szalinski vive numa moradia enorme, num daqueles subúrbios americanos cheios de casas iguais, lado a lado, com um relvado à frente e uma cerca branca, juntamente com a mulher (Marcia Strassman) e os dois filhos (Amy O’Neill e Robert Oliveri).
Entretanto, durante a ausência dos pais em casa, os dois filhos mais os dois vizinhos do lado (Jared Rushton e Thomas Wilson Brown) hão de subir ao laboratório de Szalinski no sótão e, fortuitamente, vão activar a nova máquina do pai e serem reduzidos ao tamanho de uma cabeça de um alfinete. Como se isso não bastasse, Szalinski ainda os irá varrer involuntariamente para o balde do lixo e deposita-los ao lado do contentor, à porta de casa.
Querida, Eu Encolhi os Miúdos é muito simples. Os quatro miúdos só têm que atravessar o quintal até casa, de forma a que o pai lhes devolva o tamanho original. O problema é que, com o tamanho actual deles, atravessar o jardim é uma demanda que pode demorar vários dias (para não dizer semanas). E a relva é mais uma selva do que outra coisa, cheia de animais perigosos: abelhas, formigas, lacraus… Querida, Eu Encolhi os Miúdos é então um survivor movie adolescente, que ao diminuir os heróis de tamanho, diminui também a seriedade dos perigos e das ameaças.
É certo que os quatro miúdos não têm a química de uns Goonies, por exemplo, mas a aventura é entretenimento suficientemente para fazer valer o filme. Além disso, os efeitos-especiais, sem qualquer CGI, continuam a não estar nada datados, o que prova o quão eficazes são. Até mesmo uma luta entre um lacrau e uma formiga em stop motion, directamente pilhada de King Kong, tem mais encanto que a masturbação digital da maioria dos blockbusters.
No lado oposto os Szalinskis e os vizinhos do lado vão também encetar a sua própria busca ao jardim, enquanto que os primeiros irão aproveitar. adversidade para resolver os seus problemas matrimoniais. Afinal de contas, se há coisa que importa nos filmes da Disney é o núcleo familiar e aqui não é excepção. Querida, Eu Encolhi os Miúdos é um filme sobre a família e sobre como as adversidades – e não o sangue – são a verdadeira cola que mantém unido o lar. Há quem diga que já não se fazem filmes assim, McBacons de simples confecção, com tanto de feelgood quanto de entretenimento e de emoção. Por vezes, sentimo-nos quase na tentação de concordar.
Título: Honey, I Shrunk the Kids
Realizador: Joe Johnston
Ano: 1989
Rezam as crónicas que a ideia para este filme surgiu de forma isolada, mas que a possibilidade de o encaixar como uma sequela de Querida, Eu Encolhi os Miúdos era tão perfeita que foi impossível resistir. Como não aproveitar o sucesso do primeiro filme e a possibilidade de utilizar personagens já conhecidas e estabelecidas?
Querida, Ampliei o Miúdo até se dá ao luxo de despachar a filha na cena inaugural, uma vez que o argumento original só tinha previsto um adolescente. Amy O’Neill despede-se assim da família no início do filme para ir para a universidade, numa cena totalmente inconsequente. Mas pronto, serve para reintroduzi a família Szalinski, agora a viver numa casa ainda maior e com o pai, Rick Moranis, bem estabelecido numa empresa maior. O que não significa que tenha mais crédito junto dos seus pares. Ah!, e os Szalinskis agora têm um terceiro filho, o bebé Adam (interpretado pelos gémeos Shalikar).
Desta vez, Moranis não vai inventar um raio que encolhe coisas, mas antes um que amplia. E, numa sucessão de infortúnios involuntários, o bebé vai acabar por crescer, primeiro até ao tamanho de um adulto e depois até ao tamanho de um arranha-céus. É impossível não fazer a comparação do bebé-gigante a caminhar por entre os casinos de Las Vegas com o Godzilla a destruir as cidades no Japão e Querida, Ampliei o Miúdo até lhe pisca directamente o olho, com um grupo de turistas japoneses a reagirem da mesma forma.
A diferença de Querida, Ampliei o Miúdo para Querida, Eu Encolhi os Miúdos é que este não tem muito por onde pegar. Há o gimmick do bebé gigante e, ao fim de quinze minutos, já está mais do que estafado, tendo esgotado todas as variações possíveis das piadas que se podiam fazer. Randal Kleiser tenta então encher chouriços com uma side story entre o agora adolescente Robert Oliveiri e a baby-sitter (a então gaiata Keri Russell), que são encolhidos e levados pelo bebé gigante, qual King Kong, mas também não acrescenta muito.
Entretanto há de entrar em cena Lloyd Bridges, que também não vem acrescentar propriamente nada de importante, mas que fica sempre bem em qualquer filme. Mais um par de cenas com publicidade colocada e o Double Cheeseburger fica pronto para levar para casa, sem grandes confeccionamentos ou empratamentos especiais.
Título: Honey, I Blew Up the Kid
Realizador: Randal Kleiser
Ano: 1992
Em 1997, depois de enviuvar, Rick Moranis retirava-se dos filmes para se dedicar a tempo inteiro aos filhos. O seu último trabalho? O terceiro tomo de Querida, Eu Encolhi os Miúdos. A Disney aproveitava assim para fechar o ciclo, num straight-to-video que aproveitava o sucesso de outras animações straight-to-video que tinham tido relativo sucesso.
Querida, Encolhemos! é assim um filme preguiçoso, que tenta aproveitar ao máximo as últimas gotas de crédito acumulado com Querida, Eu Encolhi os Miúdos com o mínimo de esforço possível. O argumento é uma variação do primeiro, as cenas são praticamente todas recicladas e os efeitos-especiais são maioritariamente blue screens onde são projectados os fundos em grande, com os actores a representarem em frente e sem interagirem com ele.
Mesmo assim, Querida, Encolhemos! não é propriamente tempo perdido. Quer dizer, pelo menos não ofende ninguém. Coloca novamente Rick Moranis no papel inicial de inventor maluco dos subúrbios (se bem que, agora, com sucesso e com dinheiro), dá-lhe um irmão (Stuart Pankin) e, juntamente com este, a cunhada (Allison Mack) e a mulher (Eve Gordon substitui Marcia Strassman no papel da esposa), vão acabar encolhidos em casa. A solução é tentarem avisar os filhos, que aproveitam estarem sozinhos em casa para dar uma festa (e onde aparece uma muito gaiata Mila *suspiro* Kunis).
De forma muito escorreita, os quatro vão atravessar a casa do sótão até à sala, enfrentando baratas, fazendo amizade com um pernilongo, descendo de móveis em carrinhos Matchbox e viajando em bolhas de sabão. Pelo meio, os filhos hão-de ter os seus momentos coming of age, com Robin Bartlett a aprender a lidar com rapazes, Jake Richardson a aprender a aceitar a sua doença e Bug Hall a conseguir explicar ao pai que não gosta assim tanto de ciência como ele gostaria que ele gostasse, mas antes de basebol. No final tudo acaba em bem, sem grandes desconfortos. O Cheeseburger vem logo embrulhado para levar para casa e comer sem fazer muita porcaria ou sujar pratos e talheres.
Título: Honey, We Shrunk Ourselves
Realizador: Dean Cundey
Ano: 1997