De namoradinha da América a voz crítica de uma nação. Estou a exagerar, claro, mas seria uma evolução brutal para Sandra Bullock. Pode ser que ela chegue lá. Depois de anos de comédias românticas e miss congeniality, Sandra Bullock começou a dedicar-se cada vez mais a filmes mais engajados politicamente. Para já, ainda tudo de forma muito polida e higienizada (Um Sonho Possível foi o primeiro), mas este novo Indesculpável já arrisca um pouco mais. Pode ser que ela chegue lá.
Em Indesculpável, Sandra Bullock é um presidiária que acaba de ser colocada em liberdade antes do tempo, recompensada por bom comportamento. O problema é que o mundo cá fora tem muito pouco para lhe oferecer além do ressentimento recíproco, do trauma e da falta de oportunidades. Mas Bullock não está aqui para desistir. Arranja dois empregos, não se mete em confusões e até arranja a ajuda de um advogado (Vincent D’Onofrio) para tentar localizar a sua irmã mais nova que não vê desde que foi para a prisão. Afinal de contas, apenas esse reencontro pode servir de redenção a este calvário.
A alemã Nora Fingscheidt, que se estreia em Hollywood, procura avançar com cautela, não querendo dar passos maiores que a perna, e, também por isso, opta por nunca revelar de chofre a verdadeira razão pela qual Bullock foi parar à prisão. Haveremos de saber que ela matou um homem, mas é mais que óbvio que isso não é mais do que um gato escondido com a cauda de fora.
O problema de Indesculpável não é (só) esse. O problema maior é que, a meio, começa a se metamorfosear noutra coisa completamente diferente. É certo que existem outros dois sub-enredos que se vão desenrolando em paralelo e em complemento à trama principal – aquela que acompanha Emma Nelson, a irmã mais nova de Bullock, cuja nova família nunca lhe contou ser adoptada, e outra que acompanha os dois irmãos que são filhos do homem que Bullock matou -, mas ninguém esperaria que, de repente, Indesculpável se transformasse num thriller de vingança. E dos maus.
Diz a internet que Indesculpável é uma adaptação para a Netflix de uma série de televisão de três episódios e isso explica muita coisa. Ao ser condensada em duas horas, Indesculpável fica a parecer claramente… três episódios distintos costurados num só. Parece, porque o é. É por isso que existe tanta personagem secundária de luxo – Viola Davis, Jon Bernthal… – que são apenas figurantes no seu próprio filme. Não há qualquer desculpa para Indesculpável existir desta forma. E o Happy Meal não é um justificação de certeza absoluta.
Título: The Unforgivable
Realizador: Nora Fingscheidt
Ano: 2021