Estava eu deitado a comprar charcutaria online, porque tinha cupões, quando recebo a mensagem anual aqui do escriba deste blogue com a habitual mensagem de natal “Morre porco. Raptei-te o cão, faz-me o top 10 ou eu devolvo-o”. Meu deus, não quero aquele cão feio de volta, é melhor fazer o top.
Mais uma vez, não vi grande coisa de 2023. Talvez 35, pelo que a amostra não é a ideal. Além disso, só falo de filmes de 2023 no IMDB e Letterboxd, nada daquela treta de atrasado mental “Ahh, se istriou cá estâno, é iléjibél. Nem kseja um ozu dos anos 50 que saiu como extra do DBD”. Então aqui vai.
10º Lugar
V/H/S 85, de David Bruckner, Scott Derrickson & Natasha Kermani
Aquele conforto habitual da melhor saga antológica. O tema é, adivinharam, found footage VHS de 1985. Violento, inesperado, imaginativo, narrativas entrelaçadas, bons meios de produção, recursos humanos decentes. Enfim, aquela marca premium que nunca falha. Quero dizer, falha, mas este ano foi fixe.
9º Lugar
O Urso do Pó Branco, de Elizabeth Banks
Lá está, basta o título e o filme está feito. Sim, é verdade que não é tão espectacular como a premissa, o título ou o próprio potencial que o precede, mas ainda assim é uma patetice violentona e autoconsciente que ajuda a passar bem uma quarta-feira à noite chuvosa.
8º Lugar
Guardiões da Galáxia – Volume 3, de James Gunn
Pois, também não estava nada à espera. Mas aqui estamos. Um Marvel com coração, emocional, uma bela e sentida despedida de James Gunn a dizer adeus à Disney como quem diz “Fodam-se vocês agora que a mim já não fodem mais”. Uma história pequena, centrada numa aventura de limite reduzido e muito pessoal, ao contrário das narrativas maiores que a vida do costume. Nem sou propriamente o maior votante do PAN, mas a questão da violência para com os animais faz mais pela causa que cinquenta camiões do IRA e 200 milhões de dólares no PETA.
7º Lugar
Suitable Flesh, de Joe Lynch
O quê, um guião que era para o Stuart Gordon, thriller sexual sobrenatural com Heather Graham e Barbara Crampton, realizado por Joe Lynch? Nem precisava de o ver para meter aqui, mas esta regra parva de que temos que ver os filmes para os meter nos tops de preferidos a isso obriga. É um delirio febril cheio de tesão, injectado por violência despreocupada e sem culpas. Podia ter sido feito em 1989 pela dupla Brian Yuzna e Stuart Gordon e nem se notava a diferença. A-MEI.
6º Lugar
Evil Dead Rise – O Despertar, de Lee Cronin
Aquele title card e o design de som, vistos num bom cinema, é como uma massagem prostática numa orgia da faculdade, pau feito. Evil Dead Rise – O Despertar sai das florestas para as cidades, mantendo o peso do medo e da urgência. É o banho de sangue que merecemos e com belo potencial de revisualização. Um bom exercício de desespero e ansiedade.
5º Lugar
Asteroid City, de Wes Anderson
Wes Anderson regressa com os seus guaches pastel para nos contar uma história de ficção científica passada nos anos 50 ali para os lados de Roswell. Encontros imediatos de terceiro grau do Wes, em que a fanesga pelada da Scarlett Johansson não está sequer no top 10 das coisas mais interessantes deste filme.
4º Lugar
John Wick – Capítulo 4, de Chad Stahelski
Em quarto temos Keanu a enfardar sopapo e a distribuir balázio durante 3 horas pelo mundo inteiro. John Wick, o rei do estilo em cinema de ação, é a minha série preferida. Quero um de dois em dois anos e vou metê-lo sempre no top. Sei que há uma série de TV, mas a vida é curta para ver isso.
3º Lugar
Homem-Aranha – Através do Aranhaverso, de Joaquim dos Santos, Kemp Powers & Justin K. Thompson
O futuro dos filmes de animação. O futuro dos filmes de super-herois. MCU encontrado morto numa valeta depois deste filme sair. É um impressionante trabalho de artesão, complexo, detalhado, tecnicamente avançado, enfim, a loucura total. Pontos extra para o aranha omana punk de Londres.
2º Lugar
Infinity Pool, de Brandon Cronenberg
Cronenbergs a cronenbergar. Ao terceiro filme, o jovem Cronenberg continua em forma sem sinais de perder gás. Desta vez o seu flavor da nova carne conta-nos uma bizarra história de body snatching cheia de reviravoltas, duplos significados e ambiguidade a rodos. Pontos extra para mais uma fanesga pelada, desta vez da nova rainha do terror, Mia Goth, que deslumbra e aterroriza na mesma medida. Punhetão incluido.
1º Lugar
When Evil Lurks, de Damián Rugna
Este endiabrado realizador argentino apareceu de repente com este demolidor conto de terror, cruel e enervante, duro nos temas e na imagética. Meia dúzia de cenas que ninguém esquecerá e uma permanente sensação de impotência, desespero e a inevitabilidade da derrota. Cuidado com este, amigos. Não é para todos. Mal acabei fui logo ver o anterior. Belíssimo uso de baixo orçamento para maximização do efeito.
LOL, eu nem sequer tenho um cão, gosto é de escrever tops incompletos, inconclusivos e injustos.