| CRÍTICAS | Casa Gucci

Hollywood (e os serviços de streaming) descobriu o mundo da moda e nos últimos tempos temos assistido a várias obras sobre estilistas famosos: Versace, Dior, Lagerfeld… Contudo, ainda nenhuma produção teve a dimensão e o glamour de Casa Gucci, o filme que retrata aquele que é provavelmente o mais… especial período da famosa marca de luxo italiana. Lançado no centenário da Gucci, o filme foi assinado pro Ridley Scott e juntou um elenco de luxo: Adam Driver e Lady Gaga nos papeis principais, mais Al Pacino, Jared Leto, Jeremy Irons e Salma Hayek. Um luxo, que rima na perfeição com a sofisticação e classe que são os pilares fundadores da Gucci.

Existem duas influências que são tão claras quanto óbvias na forma como Scott abordou o filme. Para começar, o título remete para A Guerra dos Tronos e as suas intrigas políticas e sangrentas entre diferentes casas. É certo que aqui toda as lutas pelo poder se desenrolam dentro da própria Gucci, mas daí o título: Casa Gucci. E depois há toda a questão da família e da honra, que são valores intrínsecos à cultura italiana, e que faz com que Casa Gucci seja O Padrinho de Ridley Scott. E, tal como na máfia dos Corleones, também vai haver aqui muita fraude, traição e assassinato.

São tudo referências mais ou menos naturais. O que não se compreende foi a decisão de Scott em transformar tudo isto numa farsa a roçar a sátira. Até porque os actores parecem ter entendido de forma diferente o que filme que se estava a fazer. Num dos extremos do espectro está Jared Leto, que faz do Paolo Gucci, irreconhecível por baixo de tanta prótese e de um overacting farsola, mais perto da caricatura cartunesca do que de outra coisa qualquer; no extremo oposto está Lady Gaga, no papel de Patrizia Reggiani, uma mulher de força e ambiciosa, decidida a escalar a montanha do poder e do prestígio e contrariar o seu destino social. A personagem de Gaga faz lembrar a de outra mulher casada com um homem poderoso, rico e de prestígio que vimos recentemente no cinema: a de Penélope Cruz enquanto Laura Ferrari, no biopic de Enzo Ferrari que, curiosamente, também tinha Adam Driver.

Casa Gucci é assim um filme desequilibrado, que nunca encontra o tom certo e que, apesar das suas duas horas e meia, parece ter sempre muita dificuldade em contar a sua história. E tendo em conta que esta é uma saga familiar com um pouco de tudo – intriga, conspiração, assassinato… -, é de estranhar a dificuldade em conseguir agarrar as suas próprias personagens e, consequentemente, a nossa atenção.

A trama dá saltos, perde-se no histrionismo de algumas personagens e situações e nunca faz jus à fama, ao prestígio e à história da marca Gucci. O caso mais flagrante é o de Tom Ford, aqui encarnado por Reeve Carney, e que foi o grande responsável pela modernização da casa nos anos 90, e que aqui é apenas um figurante numa história em que foi decisivo. Percebe-se o interesse de Ridley Scott em se focar noutros aspectos da saga familiar (afinal de contas isto é uma tragédia de faca e alguidar, como uma boa novela italiana, daquelas com o coração perto da boca), mas nunca é essa a ideia que nos fica. Casa Gucci está sempre mais perto da comédia à italiana (involuntariamente, creio) do que de outra coisa qualquer. E isso não é um elogio, é apenas um Cheeseburger.

Título: House of Gucci
Realizador: Ridley Scott
Ano: 2021

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