
A relação de Bob Dylan com o cinema nunca foi propriamente estranha. O autor de Blowin’ in the wind foi actor e até realizador (olá Renaldo and Clara), assinou bandas-sonoras e até inaugurou o sub-género do rockumentário, com o seminal Don’t Look Back. Também já tinha havido um filme biográfico em 2007, assinado por Todd Haynes, mas como era pouco convencional não conta. Eis-nos então chegados a A Complete Unknown, o bipic oficial de Dylan.
A Complete Unknown é realizado por James Magold, que continua a aprofundar o seu mergulho na americana desde que fez Walk The Line. Contudo, aqui, Johnny Cash é interpretado por Boyd Holbrook e não por Joaquin Phoenix, com Mangold a perder uma oportunidade de ouro de criar o universo cinematográfico do rock’n’roll. Daria 15 a zero ao universo cinematográfico da Marvel.
A Complete Unknown abarca a vida e obra de Bob Dylan desde que surgiu em Greenwich Village, então um completo desconhecido (no pun intended), até se tornar no futuro da folk e a voz de uma geração. E termina precisamente quando, em pleno festival de Newport (salvo liberdades dramáticas criativas) – se apresentou de guitarra eléctrica e foi chamado de tudo excepto pai. No I’m Not There – Não Estou aí, Todd Haynes representa essa cena de forma metafórica, com Dylan a subir a palco de metralhadora em punho e a fuzilar o seu próprio público.

James Mangold toma outras liberdades criativas para efeitos dramáticos, nomeadamente na forma como Dylan conhece e se relaciona com o seu herói, Woody Guthrie (interpretado por Scoot McNairy), e o seu mentor, Pete Seeger (um genial Edward Norton, que foi pouco elogiado por este papel), mas isso é discussão para os maluquinhos do cantor. Em A Complete Unknown é bem mais interessante a sua auto-biografia alusiva e o feitio meio auto-destrutivo, que se reflecte sobretudo na reação com Joan Baez (Monica Barbaro), algo relatado pela própria na sua auto-biografia. No entanto, mais do que o artista de mil e uma faces, resguardado e misterioso, o que sobra de Dylan no filme é um retrato meio de diva caprichosa. E isso significa que James Mangold não fez propriamente o seu trabalho da melhor forma.
E Timothée Chalamet? O ai-Jesus actual de Hollywood é um óptimo Bob Dylan, mesmo sem ser genial (pelo menos sem estar ao nível de Edward Norton-Pete Seeger), mas suficiente para calar os críticos e os cépticos. Por isso, podem lançar-se a A Complete Unknown descansados. Não terminam com mais do que um Cheeseburger, mas não é por isso que passarão fome.

Título: A Complete Unknown
Realizador: James Mangold
Ano: 2024